sábado, 24 de outubro de 2009

Frio na barriga

Ainda não sei por que dizia para minha mãe quando era pequeno que não gostava de ir à aula. Se eu fizer uma retrospectiva dos melhores momentos da minha vida, certamente várias passagens estarão lidadas à escola. Lembro do frio na barriga que senti no primeiro dia de aula em cada colégio que estudei. E frio na barriga é um sintoma de grandes sentimentos. E o colégio é um lugar que proporciona diversas emoções e felicidades. Foi no colégio (na saída) que dei meu primeiro beijo, escorado numa árvore na pracinha dos amores. O frio na barriga que senti aquele dia foi o maior que havia sentido até então. Mas isso é outra história, só para ilustrar alguma das coisas que aprendemos na escola.


Pensei que já tinha passado do tempo ou me livrado dos frios na barriga. Engano. Essa semana começou de novo um friozinho. Uma brisa- bem de leve- no meu estômago. Mas está aumentando. Domingo passa. É por causa do Gre-Nal. E sabe como é Gre-Nal... é igualzinho ao colégio: me dá aquele frio na barriga e sempre me traz grandes alegrias.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Paixão efêmera

Conheço pessoas que afirmam que para ser feliz é preciso amar. Amar a família, os amigos, a terra, as arvores e até as alfaces. Sem esquecer, é claro, de um amor desses de tirar o fôlego e bater mais forte o coração. Porém, já ouvi vários relatos de quem já amou muito, já teve seu coração saindo pela boca e mergulhou em abismo de paixões, de onde sempre demorava para emergir, por isso agora dizem que ser feliz é amar a si mesmo e proteger-se. Eles defendem que o melhor romance é aquele com data para terminar.
Num pensamento rápido, é interessante essa corrente. Todo mundo que tem medo de se envolver demais com alguém, poderia se atirar em paixões programadas para terminar antes que ultrapasse seu limite e comece a amar. Haveria apenas paixão entre os namorados, casais e amantes. Seriam todos ficantes, na verdade. A volta da poligamia. A extinção da traição.
Mas fazendo uma reflexão maior, não sou adepto de paixão efêmera, que não possibilite o amor. Talvez não seja tão pós-moderno ou nem moderno para entender esses amigos que pensam assim. Tampouco confiaria plenamente em alguém que não se entrega os próprios sentimentos e propusesse datar a minha paixão.
É por isso que não acredito que Mário Fernandes possa levar o Internacional de volta à disputa do título do Brasileirão. Alguém que não quer vínculo duradouro (talvez não conseguisse mesmo) com o clube contratado e prefere ser apenas um tapa buraco, não merece minha confiança. No máximo meu respeito e torcida para que faça um bom trabalho encaminhe o colorado á Libertadores do ano que vem. Mas que isso sirva para em 2010 o Inter case com algum outro treinador. Algum de qualidade, que queira viver esse casamento. Que queira essa monogamia. Que mergulhe fundo nessa paixão sem data para terminar. Wanderlei Luxemburgo e Muricy Ramalho me parecem ótimos partidos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O dia que perdi um amigo



Agora restam as fotografias, as lembranças e as marcas de uma amizade. Foram muitas festas, muitas beberagens e muitos agitos. Foi junto ao meu melhor amigo que passei os melhores anos da minha vida. Uma amizade colocada à prova nos piores momentos, e que agora se eterniza em meu pensamento.
Quantas confusões entramos (e saímos) juntos, quantos bares e wiskerias, quantas sinucas, quantas cervejas, quantas professoras enlouquecemos, quantas armações, quantas vezes provamos e desafiamos a Lei de Murphy, quantas parcerias, quantas mulheres, quantos carreteiros e churrascos, quantos futebolzinhos, quantas apostas, quantas vibrações nos jogos do nosso Colorado, quanta coisa conquistamos juntos... Quantos “quantos” eu usei aqui... e ainda falta falar de muitos,mas alem do meu esquecimento faltou foi o tempo.
Sempre fiquei feliz com a alegria e sucesso dele, sei que ele sentia o mesmo. Talvez agora ele esteja feliz, mas é impossível que eu compartilhe este sentimento.
A pouco entrei na Capela. Todos em silêncio, sobriamente vestidos, a maioria de preto, tentavam segurar a emoção. Na chegada não conseguia entender o que um senhor - que mais parecia um profeta- falava, cheguei a pensar que fosse em latim. Eu estava longe do meu amigo. Tentava ver sua expressão, mas um lustre me escondia seu rosto.
O ambiente cheio de flores, alguns choravam muito, outros se contiam. E o senhor com a barba branca que parecia um profeta, não parava de falar. Minha inquietação me fez recordar tudo que passamos juntos. Ele era uma boa pessoa. Foi junto dele que percebi que um homem pode amar outro, alem de seu pai e irmãos. Eu o amava, agora vejo isso. Amava-o como um irmão, que nunca tive.
Mas só quando o velho da barba branca parou de falar que caiu a ficha e percebi que realmente havia perdido meu melhor amigo. Vou repetir as palavras daquele padre: “Eu vos declaro casados. Pode beijar a noiva.”

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Torcedor Fanático

Sempre me orgulhava quando ouvia dizerem que mais fanático que eu não existia, hoje sinto vergonha deste título. O Gre-Nal é uma farsa, onde muitos torcedores apaixonados fazem de seus clubes suas identidades. Declaram amor a um time como se fosse algo supremo. Vestem camisas como se fosse a própria pele, ou até mais que ela. E cantam gritos de guerra, loucos para ouvirem o canto contrário; não para ver quem canta mais alto, e sim para ter “motivo” para iniciar o espancamento coletivo.
Não vou dizer que nunca cometi loucuras ou briguei pelo meu time, mas não me orgulho das vezes que prejudiquei alguém ou fui prejudicado por conta disso. Muito pelo contrário, me arrependo. As pacíficas, até conto com certa naturalidade, mas já percebo que se um “rival” visse, poderia dar confusão.
Como sou interiorano ainda não vejo razões em deixar de usar as cores do meu time em qualquer ocasião, mas será que os jovens, há poucos dias assassinados em São Leopoldo, Jéferson Ferreira e Gabriel de Oliveira, também não tinham essa sensação de segurança?
Algumas pessoas perderam a identidade
. Não são mais Cicrano da Silva, ou Fulano da Silveira, e sim Cicrano Gremista e Fulano Colorado. Com isso, ganham inimizades, discórdias e, até mesmo, tiros; se é que se pode dizer que isso tudo é ganhar.
Se for amor, porque não aproveitar o melhor dele? Sendo tão lindo assim, não tem o porquê estragar ofuscando cada vez mais o brilho do futebol.
Acabei me decepcionando com o futebol. Tenho certeza que muitos outros também.
Torcedores apaixonados geralmente acham que todos também deveriam ser... e atiram exatamente naqueles que são igualmente fanáticos. E olha o busilis: mancham o escudo do seu clube e acaba com um semelhante, só porque ele é do time deles.
Publicado dia 11 de julho de 2008 no caderno KZUKA, da ZERO HORA.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O Medo de Sonho, Vida e Morte

O medo não é como a coragem”, já se gabava meu avô, sentado sobre o pelego fechando um desfiado e contando seus causos.
De como matou cachorros e caçou capinchos e pescou cada peixe maior que outro, contou umas duzentas histórias. Mas foi da vez do sorro que ele se arrepiou contando:
“_Tava curando uma ovelha e não vi o tempo passar, quando me dei conta estava anoitecendo e a cura estava pela metade. Como não podia sair sem terminar, continuei.
Quando estava voltando, uns cem metros do rebanho, ouvi um barulho nos arbustos. Era um sorro que vinha em minha direção farejando o sangue. Muito ligeiro que sou quando a cousa aperta, atinei num repente. Enrolei o pala no braço e deixei que mordesse. Ele mordeu com raiva. Com a mesma gana saquei a peixeira e lhe sangrei o pescoço.
Pena foi meu pala. Não prestou mais.”
Outra de coragem que me contava foi da vez em que ficou de caseiro:
“Eu sozinho naquele fim de mundo, onde se ouve o crescer dos pêlos do mouro no galpão e se sente o cheiro e gosto de saudade em cada mate na manhã. Sem nada para fazer além de cuidar o resto de móveis que ficaram na casa da estância vazia. Foi no terceiro dia da casereada que se deu o rebuliço:
_Estou troteando no meu mouro pelo corredor da Morte (diz a lenda, que o corredor já sumiu com mais de mil cabeças de gado e dezenas de peões e tropeiros. As terras dos arredores, não por acaso, são desvalorizadas, apesar de tudo o que se planta cresce e todo gado engorda fácil. Relatos dão conta que se trata de espírito, centauro ou capeta que volta e meia assombra aquelas bandas) quando vi de longe um cara vestido de panos e chapéu pretos vindo a galope num picasso de estrela na testa.
Mandei uma bala na estrela do cavalo e outra no peito do cavaleiro, quando nele surgiu uma espada de fogo.
Te juro que acertei, que na época eu era bom nisso,mas o galope continuava em minha direção.”
De repente eu era meu avô. E o que eu queria era morrer; não seguir naquela cena.
Como se adivinhasse, quem apeou foi a Morte, do picasso em pêlo. Eu tremia por dentro, mas era impassível por fora.
_Vim te levar comigo, mas tua valentia me assustou e me mataria se fosse viva. Por isso te levo e se quiseres podes voltar – disse a morte com sua voz surpreendentemente serena e macia.
Perplexo com tanto horror, não conseguia me mover.
Vi quando minh’alma (um apóstrofo. Fazia tempos que não usava um. Até vou repetir).
Vi quando minh’alma saiu do meu corpo e foi na carona, pela poeira. Fui reaparecer num lugar onde parecia uma cabine de vigilância do mundo.
Eu, que sempre tive medo da morte, que vivia no meu mundinho de campos, cavalos e aventuras curadas a jujos de chimarrão, alienado entre tanto verde, percebi que o mundo, a vida era pior que a morte.
Vi rios poluídos com peixes mortos boiando, florestas sendo queimadas e até desmatadas em prol do capitalismo, ciclones destruindo cidades, a impunidade, tal qual a injustiça, correndo solta. Vi os efeitos do aquecimento global, as diferenças sociais e todas as doenças.
Antes de responder à Morte, acordei da sesta, lagarteando com a cuia na mão. Naquele momento percebi que meu medo de morrer era tolo. Passei meus anos todos com medo de morrer. Medo de ir para o inferno. Porém não havia percebido que o inferno é o mundo em que vivemos. Que as profecias se realizaram e continuam se realizando ao passar dos séculos.
Lamentei não voltar no sonho para dizer à Morte que não queria mais a Terra. Porque eu tenho mais medo da vida na terra do que da morte no inferno.

PROFECIA


Para que não digam que usei de oportunismo, faço esta postagem hoje, 26 de junho de 2008.

Afirmo: dia 4 de abril de 2009 FERNANDÃO volta ao INTERNACIONAL!!!
Um dos maiores (se não o maior) jogador da história do Colorado volta no ano do centenário para ocupar a camisa 9 e a faixa, que usou quando nos conduziu ao topo do mundo. E quando isso acontecer estaremos bem servidos de centroavante e liderança dentro de campo e no vestiário.
Depois que ele voltar, muitos vão dizer que já sabiam, mas aí é muito fácil.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ela Engana

Ela não falava palavrão. Creio que a última vez que arrotou foi lá pelos seus dois ou três anos. Bebe pouco. Enfim, uma mulher perfeita pra se casar por uns seis meses. É. Porque mais que esse tempo ninguém agüenta.Festa ela faz, mas assim... discreta. Não arrisca passinhos ousados, por isso jamais fez fiasco em baile nenhum.Mulher pra casar - sentenciaria minha mãe se a ouvisse falando suave em sua voz de doce de leite na mesinha do Cassino’s Bar, com suas caras e trijeitos.Uma baita gostosa – foi o que pensei quando ela foi se levantando pra fazer sei “xixizinho”, como ela disse - sem jeito, faces róseas.Não sei por que ela disse que faria um “xixizinho”. Quem, afinal, se interessaria em saber o que ela vai fazer no banheiro. Que fosse cagar, retocar o gloss ou até mesmo trocar o modes. Ainda mais uma lôra daquelas, que só de começar a falar, faz todos calarem para ouvir sua voz de mumu.Ela sempre falava: “vou fazer um xixizinho”. Sempre. Não podia sair sem ir fazer seu “xixizinho”. Ô mulher que mija, essa.Mulher pra ver no que dá - diria meu pai, ao me olhar pensando em acrescentar: “vai meu filho, arrebenta ela pelo meio”.Dizem que o pai sabe das coisas. Por isso fui ver até onde vai.Conversa vai, conversa vem. Beijinhos aqui, beijinhos ali. Carinhos e carícias cada vez mais quentes e a coisa ia se concretizando. Feitooooo. Gol do Brasil.Namoramos como planejara. Com o passar do tempo fui me angustiando em conviver com uma mulher que não fala palavrão, não arrota nem peida. E que mal eu largo o copo de refri e ela já pega pra lavar. Não entende piadas e quando conta alguma é do tipo: “sabe a piada do não e nem eu?”. Nem Jó agüentaria.Lá por meados do quarto mês eu estava pronto pra terminar o namoro na aurora, mas o que aconteceu naquela madrugada lhe rendeu mais um mês de crédito comigo.Ela peidou. Eu peidava também, mas não era aquilo. O peido dela foi maravilhoso. Cheiro da flor da maçanilha. Parecia um balão sendo esvaziado pelo ventil, o som ecoado por suas nádegas de algodão e ferro.Verdade que não aprecio peidos, mas aquele foi simbólico. Devia ter filmado. Maria Clara peidando na frente de alguém era inédito. Mostraria o vídeo pros meus netinhos.Ela ficou envergonhada por uma semana, o que me deu nos nervos. Devia ter terminado, com peido ou sem peido. Mas só terminamos depois de mais algumas semanas e ela ficou tão chateada comigo que nem me olha mais nos olhos e nem vai aos lugares aonde íamos.Quais banheiros ela anda freqüentando será?Um dia alguém vai ter que me explicar porque diabos ela diz que vai fazer um “xixizinho”.Peraí!Vai ver ela não fazia “xixizinho” nenhum, aquela peidorreira...

segunda-feira, 31 de março de 2008

Coisas de Cabeça

Aposto que se dissessem que Sérgio fora o Rei do forró e campeão de cuspe em distância, onde morava, ninguém por aqui comentaria tanto. Mesmo admitindo que ele dança tanto quanto cospe( e ele cospe longe). Só que espelharam que o Sérgio era corno. Só corno não: O CORNO, assim era chamado. Com o “O” adjetivado.
Provavelmente, foi um inimigo seu quem inventou esta história (se é que é mesmo invenção), mas bem que pode ter sido um amigo. Que os amigos também fazem dessas.
Atualmente é moleza. A internet proporciona essas sacanagens. E gente pra fazer maldade (por mais verdade que seja, é sacanagem) não faltam.
No início só o pessoal da turma fazia troça. Com o passar dos dias a história tomava formas e não adiantava o Sérgio desmenti-la ou tentar remendar. Em pouco tempo o colégio inteiro já sabia da sua cornice de outrora.
Sergio, que sempre gostou de namorar sério, já não podia. Por dois motivos óbvios:
Todos o chamariam de corno, mesmo que sua companheira fosse um exemplo de fidelidade.
2. As mulheres ficavam com ele para trair.
Um horror! Por isso ele só “ficava”. Mas nem isso fazia com que parassem de chamá-lo de corno.
CORNO! CORNO! CORNO... Por onde andava ouvia caçoarem. Aquilo incomodava, claro que incomodava.
Em casa, sozinho, ouvia o ringir da porta: Cooorrno; o fechar da geladeira: corno; um vizinho chamando outro: e aí seu corno; a buzina do carro: corrrno; o vendedor de laranja: óia o côôôôôôrrrrnoo; o grito da torcida ecoando no Beira Rio lotado: corno, corno, corno...
Teve de se tratar num psicólogo, depois num psiquiatra.
Porque inventaram isso ou quem o fez, não sei... mas que todos acreditaram, ah acreditaram. E isso atrapalhou muito sua vida aqui em São Gabriel. Assim é o Inter, com essa história de carrossel. Tomara que os jogadores colorados não acreditem. Do contrário é o torcedor quem vai enlouquecer ouvindo em cada ruído: GRÊMIO! GRÊMIO! GRÊMIO...


Texto Publicado no Cenário de Notícias em 29/03/2008

segunda-feira, 24 de março de 2008

O VALOR DA AMIZADE E DE UM GOL

Ary é mais que um goleiro, é um amigo que não foi o tempo nem a morte que me afastou dele. Foi minha culpa. Nossa amizade era tão verdadeira eu se um dia eu fizer um dicionário, colocarei a foto do nosso time onde estou o abraçando, ao lado.
Esse ano já voltei ao campinho onde jogávamos umas três vezes, e lá fiquei relembrando da infância correndo sobre aquela grama rala.
Minha lástima maior, a que fez encher meus olhos d’água é exatamente o fato que ocorreu comigo e o Ary naquele inverno de... tempos, muito tempo atrás.
Ary era meu companheiro de ir ao laguinho ver as meninas dando comida às tartarugas e principalmente de jogar e conversar sobre futebol.
Era o Ary que me ajudava a vender os santinhos que davam direito a quadros escolares. Como eu era tímido, ela saia comigo pra me ajudar a vender os meus também. Eu queria muito aquele quadro. Tanto que minha mãe disse que compraria os que faltassem, mas como faltavam muitos e eu estava ciente de nossas necessidades, disse pra ela que tinha vendido todos. Não conseguiria o tão desejado quadro. O Ary, vendo minha tristeza, pegou meu dinheiro e minha cartela dizendo que levaria lá pra mim. Ele trocou, disse que eu tinha vendido todos e ele não tinha conseguido. Bá, quando o diretor me chamou, credo... que felicidade! Olhei pro Ary, sabia que era coisa dele e o abracei agradecido. Aquilo é que era amigo.
Ele sempre me convidava pro seu time, embora eu jogasse pouco. Mas no torneio do bairro o melhor time o convidou pra atacar e ele não conseguiu me colocar no time. Acabei jogando no “Excluídos”, um nome bastante sugestivo.
Ary, mais que ninguém sabia como eu jogava. Sabia que eu não enfeitava, não usava calcanhar e quando eu preparava o chute era porque eu ia mesmo chutar. E mesmo assim toma gols meus. E ainda dizia: “que bucha heim”.
Nesse torneio, o time deles estava invicto quando foi nos enfrentar; e nós não tínhamos vencido nenhuma, aliás, não tínhamos nem empatado. Como eu era o último reserva, pedi pra ele me deixar fazer um gol. Ele topou de pronto.
Cinco minutos pro fim eu entrei. Fui tabelando em direção ao gol e quando estava de cara com o Ary, certo de que faria o gol, fiz que ia chutar, tipo o chute falso do Valdívia e passei por ele, que estava estirado feito um trapo velho no chão. Gol. Golaço.
Era nosso melhor jogo. Provavelmente seria nosso único ponto. Estava 3 a 3. Todos ficariam gratos a mim. Seria promovido a titular. Mas no ultimo segundo o Zezinho chutou forte de longe. Gol. Fora do alcance do Ary, que atacava com um par de havaianas dentro de suas luvas de lã. Ganhamos por 4 a 3. Todos brigaram com o Ary. Eles viram que o Ary tinha me deixado fazer aquele gol. Ary foi humilhado como nunca antes em toda sua carreira. E no meu time? Todos só queriam saber do Zezinho.
No final do jogo fui lá falar com o Ary, que me recebeu assim:
_ Sai fora, meu. Tu tinhas que me driblar? Eu não ia defender.
E saiu, com olhos marejados, pra nunca mais falar comigo.
Arrependo-me de tê-lo traído daquele jeito. Foi como ter lhe furado os olhos. Uma amizade como aquela vale muito mais que uma simples vitória. De pouco adianta meu arrependimento, depois do que fiz. Por que não pensei antes? Por quê?
Texto publicado no Cenário de Notícias dia 25/03/2008.

segunda-feira, 17 de março de 2008

CENTROAVANTES TAMBÉM CHORAM

Falar em quem tem talento é sempre uma honra. Por isso me prontifiquei para entrevista-lo. O Flávio, eu o conheço dês de a infância, quando jogávamos juntos nos campos de linhas imaginárias e goleiras de havaianas em ruelas e pátios vazios do Ipiranga na beira do rio Uruguai.
Ele era o melhor centroavante dos campinhos do Ipiranga. Pegava em qualquer time de Pirinópoles do Sul.
Ele é com as mulheres como é no futebol. Não dribla zagueiros nem namoradas. Quando está difícil de passar pela zaga, chuta de fora da área mesmo, mas costuma ter certa paciência pra esperar a hora de estufar as redes. Volta e meia faz um gol de placa; geralmente é simples, objetivo: domina, vira, bate... gol e é só correr pro abraço. E é aí que ele faz a diferença. Um artilheiro.
Uma máquina de inspiração, palavras certas em momentos oportunos. Uma fábrica de gols, mas, principalmente, de reflexão e sorrisos alheios. Parceiro de tantas baladas, boemia e festas inenarráveis, que o tempo e a distância nos subtraiu.
A entrevista era sobre ele ser o goleador do estadual. Fui até o vestiário, num dia de treino, mas com tantos assuntos para por em dia a entrevista propriamente dita não começava. E quando eu estava prestes a dar início ele abre seu armário e o que eu vejo...
Uma foto!!!
Depois disso não teria como começar a entrevista. Não era qualquer foto! Percebi em seus olhos que ele também queria conversar sobre ela, sobre ele, sobre eles.
Um amor antigo. Alice fora sua namorada na adolecência, quando ainda jogava em juniores. Era uma bela morena, sim, mas via-se que engordaria ao passar dos anos. Não pensem que tenho algo contra as gordinhas. Me orgulho de cada uma que já fiz feliz. Passados meia dúzia de anos e ele ainda com foto dela no armário... estranho.
Decidi que faria a entrevista mais tarde ou até outro dia e o convidei pra ir a um bar e tomar uns chopes com churrasquinho de gato, enquanto conversávamos sobre o assunto. A entrevista que espere.
A julgar pelas mulheres que o procuravam depois dos jogos e gritavam: lindo, tesão, bonito e gostosão!” e sua fama de mulherengo, ele devia ser um baita comedor. Não teria o porquê cultivar esse amor pela Alice. Foi mais ou menos o que eu disse. E perguntei, ainda: quantas mulheres tu já comeu?
E mais ou menos assim veio a resposta:
"_Nunca contei mulheres! Comedor, eu? Não! Eu faço amor... – continuou, professoral – o sexo delas eu tenho, mas assim... casual. De fome é que eu não morro. Sobre ser mulherengo... aí é que está: elas pensam que sou canalha, o que torna-se uma decepção. Porque mulher comigo não paga, lhe dou atenção, sexo, carinho, amor, mando flores e alugo um filmezinho. E a Alice. Aquela mulher me atormenta. Ela está sempre nos meus jogos, passa o jogo me olhando, mas aos 45 do segundo ela some sem que eu consiga mais vê-la. Tenho sonhado com ela, isso quando não me tira o sono".
Como pude julgá-lo tão mal? Como se um centroavante não amasse, não chorasse...
Percebi que com as outras ele era feliz, mas é ela que o faz sofrer.
Texto publicado no Cenário de Notícias em 18/03/2008

sábado, 15 de março de 2008

Esses Egos

Por esses dias até nem sei, mas esses tempos conferi uma discussão ferrenha na internet. “Pessoal de São Gabriel”, o nome da comunidade do Orkut, onde passava as discórdias as quais me refiro.Quando fui olhar mais atentamente os motivos da tal discussão (que a priori era uma enquete sobre qual seria o melhor jornal da cidade) percebi que, não bastasse os moderadores excluírem os comentários de seus colegas de imprensa, posteriormente excluíram, também, a dita enquete com suas postagens, impondo, assim, um ponto final no assunto.Tudo bem, já que o assunto estava se desvirtuando, mas que eles - que eram os principais alvos e os que mais se contradiziam e depois se justificavam - apenas se reservassem em simplesmente não postar mais.Um moderador levou uma “surra”. Tudo o que ele dizia se voltava contra ele e os demais participantes aproveitavam pra chicotear um pouco mais.Não foi por vergonha ou por medo ou porque seu jornal não estava na frente da enquete, foi pelo EGO que retiraram a enquete da comunidade. Ego, e só.O ego do cara ficou ferido. Não tenho nada contra a dita pessoa, até me dou com ele, mas realmente, é muito ego pra pouca prosa.Foi por culpa desse tal de ego que o Inter perdeu os dois últimos gauchões. É por ego que alguns jogadores inventam jogadinhas como o chute falso do Valdívia ou o da foca, do Kerlon, e o que alguns mudam toda hora de cabelo ou buscam o gol mil (e não é o da wolksvagem). Contando fogueirão, pelada de rua, três-dentro-três-fora, super chance, joguinhos de final de semana e no pátio de casa com certeza eu já tenho muito mais de mil gols. Dez, vinte mil. Sei lá.É por esse mesmo ego que o Brasil inteiro está nesse chororô.é por isso também que jogadores como Roger e Rada casam com atrizes, ou vão pra Europa e voltam só no carnaval pra desfilar na Sapucaí.É o ego que não deixa alguns jogadores enriquecerem e virarem craques.Ego. Ego. Ego... O mal ou o bem do mundo?Admito, é, também, pelo ego que eu sou centroavante e uso a camisa 9.


Texto Publicado em 15/03/2008 no Cenário de Notícias.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A RELATIVIDADE DA FELICIDADE

Se uma pessoa sofre nesse vale de lágrimas, essa pessoa é a Débora. A coitada é gorda. Bota gorda nisso.
Tão gorda que ela não passa na roleta do ônibus. Cada vez que embarca é um constrangimento, mas fazer o que, se caminhar muito é impraticável?
A Débora mede mais ou menos um e setenta e pesa... sei lá! Nunca peguei ela no colo pra saber. Tampouco conseguiria (lembro que uma vez fui carregar uma garota de uns setenta quilos por uns cem metros e sofri). Chutando assim por baixo ela deve pesar meia vaca.
A Débora chega a ser quadrada de tão redonda. É uma baita mulher, acho que a maior que já vi. Pra se ter uma idéia do tamanho imagina duas gordas, dessas gordas clássicas, uma de costas pra outra. Essas duas gordas de lado. Assim é a Débora de frente.
As gordas geralmente são mais felizes, mais alegres, mais amigas e mais amantes que as magras. Uma mulher gorda sempre tem mais amigos e amigas verdadeiros. São as gordas que vão pra praia e se divertem. Enquanto as magrinhas e as falsas magras andam cuidando pra não aparecer as celulites e as estrias e as gorduras localizadas e tomam aguinhas e comem sanduichezinhos naturais(quando não estão de regime), as gordinhas caminham com o balancê das gorduras e vão pro mar e riem bastante e quando voltam pra descansar sentam nos quiosques e pedem aquela cervejinha bem gelada e uma, duas, três porções de batatinhas ou bolinho de peixe bem engordurados e com bastante maionese e se deliciam olhando pro mar.
Mas quem não conhece a Débora jamais irá dizer que ela é feliz. Apesar de seu bom humor. As pessoas acham que uma gorda como a Débora não pode provar da felicidade. Não com as limitações que o peso lhe impõe e com o constrangimento de cada dia no ônibus, e em festas, e nos vestidinho nas lojas ou nas cadeiras que insistem em quebrar ou entalar. Estão enganados.
Eu que conheço a Débora dês de que ela alcançou o terceiro dígito na balança, com seus 13 anos, afirmo: se tem uma pessoa que é feliz, é a Débora. E digo mais: ela é feliz com coisas simples. É de causar inveja.
Ela é cozinheira duma lancheria. O Xis du Vido. Vido é o dono da lancheria, mas eu duvido que ele fique tão feliz quanto ela ao ver no olhar dos clientes a satisfação de saborear aqueles xis que ela faz com aquele ovo, aquela maionese, aqueles bifes e aquelas batatinhas...
Pra Débora a melhor coisa do mundo é comer. Ela viveria sem amores, sem dinheiro, sem baladas, sem seu cachorro, sem amigos, sem nada alem de comida à vontade. E mesmo assim seria feliz. O prazer da vida dela é comer.
A Débora é a prova de que não se precisa de tanto pra ser feliz. Não precisa seu time ter títulos nacionais, nem disputar uma libertadores, não precisa sequer ter títulos estaduais. Não precisa estar na primeira divisão, basta estar bem na hora. A felicidade de cada torcedor é relativa.
Um dos torcedores mais felizes do Brasil em 2008 vai ser o corinthiano, que verá seu time retornar à elite. Ou foram os colorados que viram o Inter vencer a Inter. Mas feliz mesmo são os torcedores de times pequenos que jogam a Copa do Brasil e lotam seus estádios pra ver seu time, geralmente, perder pros grandes clubes de seus grandes ídolos. Mesmo perdendo eles ficam felizes, pois não decepcionam e não são eles quem tem a obrigação de ganhar. Mas quando vencem... É prato cheio


Texto publicado no Cenário de Notícias em 8/março/2008

As duas Palmeiras

Na frente da sorveteria que eu trabalho há duas palmeiras. Uma rente ao muro, num canto. Outra mais ao centro do terreno, onde as pessoas passam por ambos os lados. Quando fomos plantar as palmeiras, minha irmã advertiu que não podia plantar palmeiras em pares. Superstição ou estudos à parte plantamos um par delas.
Como sempre, o encarregado de regá-las era eu. Raramente o fazia. Se quisessem água esperassem por chuva, ora. Numa selva elas não vão ter água trazida num balde. Elas também têm que aprenderem a se virarem sozinhas. E nem deve ser tão difícil, nem flor elas fazem.
Depois que eu comprei meu relógio, passei a marcar o horário de tudo. Cinco pra hora o ônibus passa em direção ao centro, hora e cinco do centro à BR. Três e meia passa um vendedor de quindim, eu sempre quis comer quindim, um dia chamei o vendedor, comprei. Foi o primeiro e ultimo quindim que provei. Trinta minutos depois passa uma senhora que vende suco na frente do mercado. Vinte pras seis começa a cruzar as estudantes de volta pra casa. Mas é por causa de uma loirinha que eu fico todos os dias na frente da sorveteria esse horário. É uma loirinha que não sei o nome nem onde mora nem onde estuda ou trabalha, mas ela passa num ônibus e me abana. Eu abano de volta.
Ás seis horas aumenta o movimento de mulheres enfiadas em suas calças “knor” fazendo caminhada. E tem uma moreninha que não sei como ela consegue respirar naqueles shortinhos dela. Segundas, quartas e sextas-feiras são os dias da caminhada dela. Qualquer dia desses vou me encher de coragem e vou interromper sua caminhada, lhe tirar os fones de ouvido de seus ouvidos e... e ai na hora eu invento.
Sete e meia, da tarde, é claro. É o horário que eu queria chegar. Todos os dias (fora domingo) às sete e meia, Elias saia da sorveteria e ao passar pela palmeira do centro passava-lhe a mão direita. Acho até que lhe falava alguma coisa. Sempre quis saber o que ele falava. Essa palmeira sempre foi mais desenvolvida que a do canto, esquecida, excluída, solitária. Acho que a palmeira do centro crescia era com o carinho despendido por Elias. Mas sempre fiquei na dúvida que de repente a outra não crescia por estarem dispostas em par, como alertava minha irmã.
Algo me dizia que a primeira opção era a mais coerente. Alias não qualquer coisa. O que me dava sinal disso era a própria palmeira.
Elias adoeceu e não pode mais ir trabalhar. Com a saúde cada vez mais debilitada ele teve de ir a Porto Alegre se submeter a alguns exames e provavelmente a alguma cirurgia.
Sem a mão e as palavras de Elias, a palmeira parou de crescer, de criar novas folhas e foi murchando e as folhas que tinha foram secando.
O que mostra que além do carinho de Elias, ela precisava da repetição deles para crescer. Precisava de sua mão diária e pontualmente às sete e meia. Assim é um time de futebol. Idêntico. Mais que planejamento, um clube necessita de continuidade, de repetição. Dificilmente um time que vive trocando de técnico e de escalação consegue se manter no topo por muito tempo, isso quando chega ao topo.

Texto Publicado no Cenário de Notícias em 4/março/2008

domingo, 2 de março de 2008

JOGADOR PROFISSIONAL - Parte 2

Recapitulando o conto anterior: Um zagueiro perna-de-pau, porém muito forte e furioso descobriu que eu falava mal dele. Pior: seus colegas inventavam muito mais. Ele estava pronto pra me encurralar e me trucidar, mas eu consegui entrevista-lo sem sobressaltos.

No final da entrevista ele perguntou:
_Já está em “off”?
E eu voltando a tremer respondi que sim.
Ele começou: “Cara, tu é um jornaleirinho de merda. Eu já te vi jogando, tu não joga nada. Nunca jogou. Lembro de ti num peneirão. Eu passei... tu não. Eu já joguei no Grêmio, no Juventude na Ulbra, agora estou aqui, mas minha carreira vai decolar. Teu sonho era ser jogador de futebol, que nem eu, neh? Eu sei que era teu sonho.Mas eu é que sou profissional. Pro-fis-si-o-nal. Entendeu?”
Escutei tudo aquilo quieto e aliviado, pois apesar de tudo isso, pelo menos, ele não me bateria.
Certamente ele passou noites pensando naquele discursinho. E até que tem certa razão. Eu queria mesmo ser jogador de futebol. Não consegui.
Nem todos conseguem. Vários desses buscam atividades alternativas ligadas ao futebol tipo: árbitros, bandeirinhas, roupeiros, maqueiros, gandulas, vendedores de churrasquinho e até cronistas esportivos.
Mas eu penso no futuro. O que será do Araújo no futuro, daqui a uns vinte anos?
Um ex-jogador, só. Burro como ele é, que sequer diferencia um gravador dum celular, não vai ter profissão, nem toda essa força e seus joelhos estarão detonados.
Ai seremos quarentões, ele um fracassado ex-jogador, eu um fracassado futuro-jogador, porém ainda serei jornalista. Meus joelhos estarão em perfeito funcionamento e com garantia de mais dez mil quilômetros e meu jornal fará um jogo beneficente onde vai jogar Alexandre Pato, Gabriel Pensador, Rogério Flausino, o Presidente da República, o filho do Chico Buarque, Túlio Maravilha Junior, Ronald e mais uns amigos meus como o Rudiere, Juliano, Diogo, Lucas, Nelson e o Araújo. Sim, porque eu vou convidar o Araújo.Eu com a 9 ao lado do Pato e do Ronald vou entortar tanto o Araújo que ele vai pedir pra sair. E nesse momento ele vai lembrar tudo que me fez ouvir a duas décadas. E quando ele se lembrar disso e me ver fazendo gols e depois contando sobre o jogo e perceber que ele não tem profissão, vai se arrepender de ter matado aula pra ficar jogando futebol no pátio do colégio invés de ler um livro.

Texto publicado no Cenário de Notícias dia 1°/03/2008.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

JOGADOR PROFISSIONAL

Essa coisa de redação de jornal, de comentários extra campo ou em “off” sobre atuações de certos jogadores é complicado. Às vezes o que a gente fala é mal interpretado e até distorcido. Uma história, apesar de diferentes interpretações é sempre a mesma história. Só que quem conta é um, quem espalha são muitos.
Pois eu comentava sobre o futebol de um jovem zagueiro que o técnico (só o técnico, ninguém mais, nem eu, nem a torcida, nem seus colegas) achava que ele estouraria de verdade pro futebol. Um perna-de-pau esse zagueiro.
Meus comentários chegaram ao técnico, a ele, à torcida, à imprensa. Chegou a todos sem eu escrever uma única linha sobre ele. Claro que eu falava da ruindade desse zagueiro pra muita gente, mas pô...em “off”. Afinal ninguém me entrevista.
Ele queria minha cabeça. Bufava pelo vestiário enquanto uns colegas colocavam lenha: ”Bá Araújo, tu nem sabe a última que ele falou de ti...”. E inventavam alguma coisa. Sim. Inventavam. Pois por motivo lógico eu parei de falar qualquer coisa que fosse sobre ele. Ele é ruim mesmo, mas o braço dele é da grossura da minha coxa, sua mão espalmada é uma raquete, fechada uma marreta e mede quase dois metros. Mais: é brabo, muito brabo (ou seria bravo? Eu falo brabo). E agressivo, exatamente por isso era ruim. O zagueiro tem de ser calmo, sereno, pensante, atalhador. Os atacantes é que devem ser agressivos.
Fiquei quase um mês sem cobrir seu time, nem pisava nos arredores do estádio.
Me diziam que a raiva dele era tanta que ele me mataria a socos e chutes perguntando aos berros: Quem é ruim? Quem é perna-de-pau? Quem é doente? Quem não tem futuro agora? Quem? Quem?
Alguma hora eu teria de me topar com aquele “incrível Hulk dos pampas”. Fui lá esclarecer que foi tudo um engano, um mal entendido e que ele até joga mais ou menos. Só que não foi bem assim que aconteceu.
Cheguei no estádio já cuidando todas as saídas possíveis. Provavelmente eu teria de correr. Correr muito. Até que aquele baita índio cerrou os dentes e se veio pro meu lado. E vinha. E vinha. E parecia um trem, um urso, um trator e com a raiva dum Pit Bull. Eu só com minha cardenetinha, minha caneta na orelha e meu gravadorzinho na mão ia andando pra trás e rezando e olhando pros lados, pra ele, pros lados, pra ele. Tudo estava longe, ele cada vez mais próximo. Não adiantaria eu correr. Ele me pagaria ainda com mais raiva e me trucidaria ali no campo mesmo.
Me entesei, me enchi de coragem , valentia e num lampejo de astúcia e num movimento de único puxei meu gravador como se fosse um celular e falei bem alto: “Alô Cláudia e ouvintes da São Gabriel, estamos aqui AO VIVO (agora mais alto ainda) com o grande jogador Araújo...”
Segui a entrevista lhe fazendo perguntas como se aquilo fosse um celular ao algo ligado direto no estúdio e aos poucos a fera foi se amansando e acho que por instantes ele até esqueceu que estava brabo comigo e que me mataria.
Por isso que eu repito: tem horas que só a criatividade pode te salvar.

O que vai acontecer no final da entrevista? Será que Araújo vai descobrir que estava sendo enganado? Saiba terça-feira o desenrolar dessa alucinante, empolgante e inusitada história.


Texto publicado dia 28/02/2008 no Cenário de Notícias

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

NUM TIME GRANDE

Não sou, definitivamente, um contista de tristezas, apesar dum forte ar nostálgico, mas desta vez não venho contar alegrias. O que conto agora é para que pelo menos um de meus leitores siga um exemplo.
Sinceramente, eu gostaria que este leitor fosse você. Você mesmo, que está lendo agora e que acaba olhar pra si próprio ou para algum lado.
Morreu semana passada um grande atleta dum grande time que poucos podem jogar e poucos conseguem reconhecer. Ele jogava no time das pessoas boas, generosas e honestas. Esta pessoa a qual me refiro é o pai de um amigo meu, que também joga neste time.
Nada pode ser maior que a dor da perda de um pai, ou filho, ou irmão... Neste momento deve estar passando um longa-metragem na memória deste meu amigo. Um filme cheio de alegrias vividas com seu pai que tanto lhe ensinou e deu orgulho. Que o levantou em tantas quedas e que quase chorou ao ouvi-lo falar pela primeira vez “papai”. Um filme lindo. Mas e quando ele lembrar as brigas sem motivos e sem pedidos de desculpa ou perdão? Ou pior: quando ele lembrar que não sabe qual foi a última vez que o abraçou e disse: “eu te amo, meu pai”?
Isso de não dizer o quanto amamos as pessoas é comum. Eu mesmo quase não digo. Isso que eu amo muita gente. Amo minha mãe, minha irmã, meu pai, meus avós, meus parentes, todos. Amo meus amigos e amigas, amo meu Internacional e, admito amar até o Grêmio, mas isso eu explico noutra ocasião. Amo muitas mulheres, divididas em amores possíveis, impossíveis, platônicos e vividos. E até já chorei por amor e desamor.
Sei que palavras não significam mais que atitudes, mas provavelmente a pessoa amada precise ouvir que é amada. Por isso vou tentar dizer pra quem eu amo que eu amo.
Você já disse que ama seu filho, seu pai, sua mãe, e sua mulher hoje? Já olhou nos olhos de alguém e disse: “eu te amo”?
Diga. Pois amanhã pode ser tarde. Mas se disser, diga com sinceridade.
O pai desse meu amigo saiu do nosso convívio pra brilhar no time dos anjos bons generosos e honestos. Uma grande contratação de Deus, um grande desfalque, lástima e pesar para nós, humanos...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

DIOGO RINCOM E A OPORTUNIDADE PERDIDA

Sempre, depois dos jogos, todo nosso time escolhe um barzinho perto do campo pra repor as energias com umas cervejinhas gelada e picadinho. E ali começa oficialmente a hora de discutir os lances da partida.
Daquela vez não era pra termos perdido. Mas perdemos várias oportunidades de matar o jogo. Eu mesmo errei duas vezes, uma chutei no goleiro e outra pra fora, das quatro chances que tive pra estufar as redes.
Nosso goleiro aceitou os três primeiros chutes. Rapidinho já tava 3 a 0 pra eles. Nos tínhamos o domínio da bola, eles do jogo.
No final do primeiro tempo descontei, 3 a 1. Eles eram debochados. O Tí foi o que mais se irritou com as brincadeiras deles. Deve ter sido por isso que no primeiro minuto marcou um golaço: driblou três, passou pelo goleiro. 3 a 2. Seguiu assim; 4 a 2. 5 a 2. Cacetada do Juliano, 5 a 3. Bate pronto do Rudiere, 5 a 4. Eles revezavam, nós não tínhamos reservas. 6 a 4. 7 a 4. Tí, mais um golaço, 7 a 5. No finalzinho ainda fiz mais um, num bate-rebate em dividida com o goleiro, 7 a 6. Tarde demais. Perdemos.
Ainda vamos no cruzar nesse campeonato, com outro goleiro, aí eu quero ver...
E foi justamente em frente ao nosso energético pós-jogo que surgiu o assunto culminante. Arrependimentos. O Díogo, nosso craque reserva, sempre discursante começou:
_ Não me venham com arrependimentos. A vida não é um rascunho – dedo em riste- está enganado quem pensa que os dias são todos iguais. Não são. Cada dia é uma história, por mais monótono que possa parecer é uma história. E a tua história- nisso ele apontou pra todos nós – é feita pela soma, pela seqüência dos dias. Um erro, uma falha pode anular o valor de mil acertos e vitórias e conquistas – finalizou com uma frase do Paulo Santtana. Nada passa, mas tudo muda. “Nada passa, a menos que não tenha passado.”
Um sábio esse Diogo, por isso que fizemos um silêncio solene, que durou mais dois segundos depois que ele parou.
Arrependimentos dum, doutro até que chegou minha vez.
Meu arrependimento é dos brabos. Dês dos tempos do primário que uma libanesa é louca por mim, mas como eu sou quatro anos mais velho, não me interessava por ela. Sempre preferi mais velhas que eu, ou pelo menos da minha idade. Fora que ela era, digamos... jaburu. É essa era a classificação dela. Uma jaburu novinha, e com tendências a piorar.
Quando ela entrou no ensino médio já era bem mais bonita. E eu já não estudava. Aos poucos fui me desligando do colégio, das colegas. Mas ela ainda tinha aquele amor platônico por mim.
Ela já estava bem apetecível, mas eu estava namorando. E não trairia minha namorada, isso é que não. Mesmo assim dava corda pra Aline. Sabe... não se pode perder todo contato com elas, pois um dia o namoro acaba. E realmente acabou.
Eu ia ficar com ela. Mas ai uma de suas melhores amigas praticamente me assediou, não resisti. E ela ficou tão chateada comigo que resolveu me esquecer. E com isso cresceu em mim o mesmo sentimento que antes era dela.
Eu diria que errei, mas que a culpa foi dela mesma que decerto falava tão bem de mim que acabou despertando desejo na sua amiga, e que eu seria só dela e que a amaria. Eu até ensaiava e nesse vô, não vô, vô, não vô, acabei não indo e ela arrumou um namorado.
Agora um babaca desfila pra cima e pra baixo com ela, e eu tendo que vê-los todos os dias. Percebi que ela é a mulher pra casar. Cada vez mais exuberante, cada vez mais linda, com a elegância de uma rainha da Inglaterra e simpatia de ganhar concursos. Uma mulher digna de crime passional. Eu me casaria com ela. Lhe mostraria o que é amor de verdade, lhe serviria um mate todas manhãs e morreria velhinho ao seu lado falando da vida dos netos e dos vizinhos.
Mas o grande culpado fui eu, admito. Quando tive a oportunidade deixei passar. Perdi.
Tenho certeza que daqui a um tempo o Abel Braga vai jogar uma pelada e no fim do joguinho vai confessar aos amigos que se arrepende de ter vetado a contratação do Diogo Rincón em prol do Andrezinho. Tomara que esse Andrezinho seja mesmo sensacional, como disse Abelão. O difícil vai ser os colorados engolirem o Diogo Rincón brilhando no Corinthians do Mano Menezes.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Parei de Beber

Dia 28 de novembro de 2007 foi o dia que decidi parar de beber, digo, de beber cerveja ou qualquer tipo de bebida com álcool. Não que a bebida houvesse tomado conta de mim. Eu bebia só nos finais de semana, finais de jogos, festas, churrascos e quando saia pra noite. Só que desde o início do mês que eu jogava, ia em festas, em churrascos e saia pra noite diariamente. Portanto bebia. Raras vezes cometi exageros, uma ou duas vezes, no máximo. Sabe, eu achava bonito beber. Não é. Confesso que acho muito mais bonito fumar e jogar sinuca (os dois juntos), porém nunca fumei e não jogo sinuca. Até que um dia, nesse dia 28, olhei ao meu redor e me vi numa cena lamentável: Eu só de cueca na cama, o chão cheio de papéis- rabiscos de poemas e contos inacabados, sentimentos vagos ou profundos- lixo espalhado, latinhos e garrafinhas de cerveja na beira da cama e pelos cantos, roupas no chão ou em cabides e uma TV ligada que passou a noite assistindo uma noite de prazer que já não lembro direito, um relógio que marca 13 horas e eu recém acordando com gosto de cerveja na boca. Naquele dia eu mudaria. Limpei meu quarto, meu banheiro, dei um trato na casa e tomei a decisão de não beber mais. Mas não largaria a noite, o futebol, as mulheres, os amigos, isso é que não! No início a estranheza dos meus amigos sobre essa mudança, mas depois acostumaram. Eu não precisava daquilo. Meus amigos também não. Bebiam porque bebiam. Um bebia, os outros bebiam junto. Só. Só fui beber novamente no dia 17 de dezembro. Um gole só. Sem querer, até. Foi na comemoração de um ano da conquista do titulo de campeão mundial pelo Internacional. Me alcançaram a taça e eu bebi. Tudo bem. O momento merecia. O Inter merecia. Eu merecia. Depois disso bebi mais algumas vezes. No réveillon e no carnaval. É. Está bem... eu não consegui parar de beber. Não que o álcool seja maior do que eu, mas é difícil. Não um martírio, nunca, mas é complicado. O fato é que eu já nem bebo quase. E que diabos isso tem a ver com esportes, com futebol? É que eu bebia muito mais quando eu não tinha 18 anos, quando era proibido. Agora que posso comprar e beber e ficar bêbado não compro, não bebo e não fico bêbado. E se tivessem me proibido de beber eu seguiria bebendo. Não é com imposições e muito menos com brigas que eu mudaria. Vagner Mancini tinha muita autoridade com os jogadores do Grêmio. Agora o trocaram por Celso Roth, um durão que não vai fazer o trabalho conciliador e invicto que fazia Mancini, ele vai gritar vai brigar e com isso vai perder. Falar alto, impor e brigar não quer dizer autoridade. Conscientizar e conversar sim.

Texto publicado no Cenário de Notícias dia 20/02/2008.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A Faixa


Depois de ouvir Wianey Carlet tecer comentários sobre uma faixa (ao lado) um colorado envia-lhe o seguinte recado:

"Ouvi teu comentário sobre a faixa 'bem-vindo ao planeta dos macacos' no Beira-Rio. Dissestes que isso, de certa forma, autorizaria os gremistas a nos chamarem de macacos.
Primeiro, sobre o fato de os colorados se auto-intitularem macacos: isso é uma demonstração de que nós não vemos problema nisso. Para nós não é vergonha ser chamado de macaco, negro, mulato ou algo que o valha. Nem para os colorados 'brancos', como eu.
SOU MACACO SIM. Outros, entretanto, são notoriamente reconhecidos como racistas (o Grêmio é a lazio do Brasil).
Segundo: muitos torcedores (principalmente dos clubes vencedores e, por isso, bem-humorados), adotam a forma pejorativa usada pelos adversários ao se referirem a eles, como algo que os identifica.
Exemplo: os torcedores do River chamavam os do boca de bosteros porque os boquenses, de origem pobre, andavam de charrete enquanto os ricos do River já tinham carro (isso em meados do século passado). O caminho percorrido pelos hinchas do Boca ficava, então, cheio de merda de cavalo. A torcida do Boca se chama de 'bosteros' com orgulho até hoje.
O mesmo vale pro Palmeiras. Apesar do mascote ser o papagaio, seu torcedor se intitula de porco. Isso porque os adeptos dos demais times paulistas chamavam os palmeirenses de porco, devido a sua origem italiana. Em SP se diz que italiano não é muito chegado aos melhores hábitos higiênicos.
E o Fluminense? Não aceitava negros (como o Grêmio, último clube brasileiro a aceitar afro-descendentes). Contudo, depois que o Vasco se tornou grande (no primórdios do século passado os quatro grandes do Rio eram Fla, Flu, Fogão e America), devido ao tetra carioca ganho com um time formado basicamente por negros. Assim, os demais viram que estavam perdendo tempo. Só que o Flu era aristocrático demais. Então, passavam pó-de-arroz nos negros para que parecessem brancos. Todavia, mal começava o jogo e o suor demonstrava a farsa, que era delatada pelos presentes no estádio, que gritavam 'pó-de-arroz'. Hoje, os tricolores cariocas se chamam de pó-de-arroz.
CLARO QUE TEM AQUELES QUE NÃO ACEITAM E RELEGAM ESSAS PERCEPÇÕES DOS ADVERSÁRIOS , COMO OS BAMBIS (SÃO-PAULO), GALINHAS (RIVER) E COLIGAY / SMURFETE / TRICOLETE / BANANA-DE-PIJAMA (GRÊMIO).
Terceiro: o Inter não teve negro de imediato porque na época o futebol era elitizado e os negros nem tentavam entrar nossos clubes. Mas o Inter SEMPRE esteve aberto à negros e judeus, maiorias e minorias. O nome é Internacional em virtude disso. Outros repudiavam e não aceitavam negros nem gringos (que acabaram fundando o colorado para vencê-los tantas vezes depois).
Em quarto lugar: o que incomoda é o IMUNDO e não o macaco. A tal da letra que a torcida da avalanche (nem na Roma antiga se via tamanha 'amizade' entre homens) é assim:
Sou campeão do mundo Da libertadores também Chora macaco imundo Nunca ganhou de ninguém*
*Com a ressalva que o títulos citados estão presentes no gigante, que colorado não é imundo (é só comparar o Beira-Rio e o Olímpico para se ter essa certeza) e que, só do Grêmio, ganhamos mais de 100 vezes (e temos 20 vitórias em Gre-Nais a mais).
MAS EXISTE UMA VERSÃO COLORADA PARA ESSA MÚSICA:
Sou campeão do Mundo FIFA Da Libertadores também Só não jogo a segundona Nem torço na coligay
ABRAÇOS E SAUDAÇÕES COLORADAS,
Mateus Carilho"

Parei de Beber

Dia 28 de novembro de 2007 foi o dia que decidi parar de beber, digo, de beber cerveja ou qualquer tipo de bebida com álcool.
Não que a bebida houvesse tomado conta de mim. Eu bebia só nos finais de semana, finais de jogos, festas, churrascos e quando saia pra noite. Só que desde o início do mês que eu jogava, ia em festas, em churrascos e saia pra noite diariamente. Portanto bebia.
Raras vezes cometi exageros, uma ou duas vezes, no máximo.
Sabe, eu achava bonito beber. Não é. Confesso que acho muito mais bonito fumar e jogar sinuca (os dois juntos), porém nunca fumei e não jogo sinuca.
Até que um dia, nesse dia 28, olhei ao meu redor e me vi numa cena lamentável:
Eu só de cueca na cama, o chão cheio de papéis- rabiscos de poemas e contos inacabados, sentimentos vagos ou profundos- lixo espalhado, latinhos e garrafinhas de cerveja na beira da cama e pelos cantos, roupas no chão ou em cabides e uma TV ligada que passou a noite assistindo uma noite de prazer que já não lembro direito, um relógio que marca 13 horas e eu recém acordando com gosto de cerveja na boca.
Naquele dia eu mudaria. Limpei meu quarto, meu banheiro, dei um trato na casa e tomei a decisão de não beber mais. Mas não largaria a noite, o futebol, as mulheres, os amigos, isso é que não!
No início a estranheza dos meus amigos sobre essa mudança, mas depois acostumaram.
Eu não precisava daquilo. Meus amigos também não. Bebiam porque bebiam. Um bebia, os outros bebiam junto. Só.
Só fui beber novamente no dia 17 de dezembro. Um gole só. Sem querer, até. Foi na comemoração de um ano da conquista do titulo de campeão mundial pelo Internacional. Me alcançaram a taça e eu bebi.
Tudo bem. O momento merecia. O Inter merecia. Eu merecia.
Depois disso bebi mais algumas vezes. No réveillon e no carnaval.
É. Está bem... eu não consegui parar de beber. Não que o álcool seja maior do que eu, mas é difícil. Não um martírio, nunca, mas é complicado.
O fato é que eu já nem bebo quase.
E que diabos isso tem a ver com esportes, com futebol?
É que eu bebia muito mais quando eu não tinha 18 anos, quando era proibido. Agora que posso comprar e beber e ficar bêbado não compro, não bebo e não fico bêbado. E se tivessem me proibido de beber eu seguiria bebendo. Não é com imposições e muito menos com brigas que eu mudaria.
Vagner Mancini tinha muita autoridade com os jogadores do Grêmio. Agora o trocaram por Celso Roth, um durão que não vai fazer o trabalho conciliador e invicto que fazia Mancini, ele vai gritar vai brigar e com isso vai perder. Falar alto, impor e brigar não quer dizer autoridade. Conscientizar e conversar sim.

Texto publicado no Cenário de Notícias dia 20/02/2008.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Dono da 10

A sorte do Marcio é que ele é bonito. Sorte mesmo. Pois se não fosse isso não sei o que seria dele. Talvez já tivesse se matado ou se trancado em meio a livros e traças, como muitos “peganingue” fazem. Ele é meu amigo, mas só fala o que não deve. Esse sabe ser inconveniente. Principalmente com elas.
Mesmo assim tem, sempre, várias garotas afim de “ficar” com aquele besta. Por ele ser inegavelmente bonito algumas nem levam em consideração seus atos.
Agora ele vive pedindo conselho. Ele percebeu que seu filme estava queimado. E eu só o aconselho o seguinte: quando for falar ou se mexer muito, não fala não se mexe, não faz nada, pombas.
Pouco adianta. Uma e duas e ele volta como era antes e põe tudo a perder. E seu filme queimando... queimando... queimando...
Ele insiste em querer aparecer. E só dá furo. É que uma vez ele leu que pra chegar ao fundo do coração de uma mulher deve-se fazê-la rir. Sim, acredito. E é exatamente por isso que ele tenta; pena que não consegue.
E eu sigo insistindo: discreto Marcio. Discrição é a palavra. Dis-cri-ção.
Parece que não aprende que entra num ouvido e sai no outro. Agora diz que vai namorar uma morena-jambo com olhos de japonesa. Diz que é deslumbrante. Só quero ver quanto tempo dura se ele não mudar. Um mês no máximo.
Se ele conseguir namorar essa morena-jambo com olhos de japonesa, grande mérito é do degas aqui, que tanto o aconselha.
Aconselhar. É o mínimo que posso fazer. Não posso deixar ele perder uma morena-jambo com olhos de japonesa, ainda mais ela sendo deslumbrante. Nenhum amigo de verdade permitiria.
Outro que deve ter um amigo que o aconselha é o Roger, da Deborah Secco e do Grêmio.
Dum jogador como Roger, numa estréia, é esperado um brilho de meio-time, jogadas sensacionais e de preferência com gol.
Hoje o Roger precisa muito mais do Grêmio do que o Gremio dele. E ele, se não quiser ser um precoce ex-jogador, não pode deixar o estrelismo lhe tomar conta.
Um atleta que já afundou com tantos clubes e tantas lôras, que já fez tanto esforço pra não se afortunar têm mesmo é que estrear como estreou pelo tricolor pelo Gaúchão, discreto. Modesto, porém sem comprometer. Sem riscos.
Se continuar assim vai fazer com que os gremistas voltem a entrar em filas pela camisa 10.
Quem é craque não precisa usar mais que seu talento divino pra conquistar ídolos por onde passa. É só jogar seu futebolzinho e não falar bobagem.


Texto Publicado no Cenário de Notícias em 13/02/2008.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A lancheria amarela e a plataforma de rolha

Se eu fosse mulher é certo que usaria só aqueles vestidinhos de verão, aqueles bem soltos, sem costuras. Qualquer magrinha se torna desejo incontrolável de todos os homens.
Existe algum misticismo que envolve esses vestidos. O mesmo acontece com as sandálias rasteirinhas. As mulheres, principalmente as de pernas cumpridas, passam do nível das “Olivia Palito” pro patamar das gostosinhas, só em combinar essas duas misteriosas peças.
Atenção mulheres!!! O inverso também ocorre, e muito. Quando as gostosinhas vestem suas calças de um numero maior com uma sandália de plataforma.
Claro que ainda prefiro que elas usem tamancos ou sandálias com salto, mesmo que pequenos. Isso deixa a panturrilha e toda a perna mais firme e muito mais sensual.
Acho que vou lançar uma campanha: “Não use plataforma”. Vou sair gritando e carregando uma faixa pela rua. Sei que muitos de meus amigos vão me ajudar. Até já conversei com eles. Foi unânime. Todos repudiam plataforma.
Talvez até criem uma lei proibindo o uso. De tanto pedirem a CBF acatou e vai voltar a organizar o Brasileirão com finais.
Agora impunho a bandeira contra um bar e lancheria. O “PELOTAS LANCHES”. Eu passava na frente e pensava: vou lanchar aqui qualquer dia desses. É que me agradou o ambiente e todo aquele amarelo chama mesmo a atenção, fora as mesinhas junto ao estacionamento que o carro-lanche está situado.
Depois de um joguinho com os amigos fomos até o tal bar. O Paulo cegou dizendo: “SA-TO-LE-P SEH-CNAL. Que é PELOTAS LANCHES invertido. Ele tem essa mania de ler as coisas invertidas. Mas tive que concordar que SATOLEP LANCHES ficaria melhor. Até existe uma lancheria com esse nome. E até é parecida com a que eu relato. Sentei e pedi uma Polar e três copos. O Tiago um refri e mais três copos. Veio primeiro minha cervejinha e os três copos, depois a guaraná e dois copos. Pedimos outro copo. Ele não ouviu. Chamamos-o novamente. Com demora trouxe-nos o copo e eu aproveitei pra pedir a segundinha. Calculava tomar umas cinco, seis. Mas ele não trouxe. Seguiu como se não tivéssemos pedido nada.
Levantei e falei: “vamo embora”. Juntei o dinheiro. Seis reais. Assobiei pro atendente:
_Seis neh!? –mostrei o dinheiro e larguei na mesa.
Ele sinalizou, com a cabeça, que era esse valor.
Fui embora dizendo: perdeu um cliente. Outro disse: “nunca mais piso aqui” todos pensaram o mesmo. Só não reclamei porque o cara é um baita negão, desses forte e grandão que lutam jiu-jítsu e tem a orelha de lutador de luta - livre. Não da pra “mete” com um cara daqueles.
Rumamos até o próximo bar que encontramos. Lá bebemos até cansar e discutir todos os lances do jogo e falar mal do bar que tínhamos ido.
Aquela lancheria amarela, onde fomos mal atendidos, foi como uma gostosa de plataforma.
Por isso eu insisto: uma plataforma e um mau atendimento espantam a freguesia.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Interferência

A música q toca no rádio faz lembrar vc
sei q a gente não tem nossa música
e nem precisava, neh
nos faziamos nossa própria melodia
com a natureza e seus efeitos especiais
com o barulho dos nossos lençois
com o vapor da cerveja
e nossos pés nos pé-da-mesa
nossa música só cantava alegria
e agora. que ironia
canta tristeza e nostalgia
não acredite nas maldades
vamos matar a saudade
vamos voltar a cantar a beleza
pq hj eu tenho certeza
meu amor é mais puro q de criança
e isso me enxe de esperança
vamos olhar pra tras
e nos matar de rir. ou chorar
o q nos fizeram não se faz
acredite em mim
ou até nunca mais
nosso amor calado tem que ser maior q tudo
muita coisa eu não sei dizer
as vezes não sei o q tu qr
mas sei o q almejo:
q tu seja pra sempre minha mulher
vem, me abraça forte e da um beijo
deixa eu ser a faca e tu o queijo
um pro outro fomos feitos
te desejo com ternura e serenidadete
amo com ardor e vorassidade
vou gritar pra toda cidade:
te qro hj e sempre meu amor



Esses versos simbolizam a parte boa duma relação que já acabou, mas que foi marcante em seus melhores momentos.
So que foi marcante também nos maus momentos. O que é uma pena.

Agora vejo que não merece replay

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Esse é meu Guri

Ouço cochichos pelos corredores. Sei que são sobre mim. Eles dizem: será que ele nunca vai casar? E nem ter filhos? Imagina daqui a uns dez anos...
O pessoal adora uma fofoquinha. Principalmente ali perto do bebedouro. Acho que vou colocar câmeras e gravadores escondidos, só pra ver o que acontece.
Mas sabe... Estes cochichos deles, eu mesmo me indagava a algum tempinho. Sobre casar, não pretendo. Imagina eu colocar uma mulher a morar comigo, dividir minhas gavetas e bagunçar meu banheiro. Encher meu banheiro de creminhos; meu dia de perguntinhas e minha paciência com te-pe-eme-zinhas. Não. Definitivamente, não.
Filhos... Esta é uma questão que estava a caminho. Não pensem que engravidei alguma mulher por aí. Muito menos que mandei abortar. Não sou tão irresponsável assim. Iria inovar. Faria um filho numa produção independente. Só para eu criar, a meu gosto. Procurava genética, as mais cotadas seriam as morenas, altas, forte e sem perder a beleza feminina, é claro. Preferencialmente com um metro e noventa, um e noventa e cinco. E nenhum parente de primeiro grau com menos de um metro e oitenta.
Todas estas exigências genéticas para ter um filho jogador de futebol. Meu pai queria ser jogador, não conseguiu. Queria que eu fosse, eu não emplaquei. Agora vai, pensei. Eu até que era um bom centroavante, nos meus tempos de guri (dos 15 aos 30 anos). Agora, com quarenta e tantos, sem toda aquela velocidade e virilidade, que o tempo me tomou, andejo pelas arduras da zaga.
Mas que ele não invente de ser lateral. Que fosse goleiro, às vezes, até os goleiros tem sorte. Lateral não vale nada e é o que mais corre. Só sofre. Melhor que siga a dinastia da família. Um matador.
Agora com a careca aparecendo, junto com os fios brancos, muitos brincam: “e aí Dr. Ronaldo, careca hein...” Ou: “gordinho que nem o outro Ronaldo”. Vejam, eu tenho até nome de craque, jogava na mesma posição que ele. Onde foi parar o brilho do meu futebol, poxa!
Parece que, quando tudo está se encaminhando bem, aparece uma voz e diz que devemos tomar outro rumo. Foi exatamente o que aconteceu.
Sem o que fazer numa segunda à noite, resolvi ver um filme. As Panteras, eu acho. Tudo normal, até que apareceu uma alma, do nada, e estes espíritos quando aparecem é pra deixar uma moral, sempre. Prestei atenção naquela fantasminha, que era muito sexy, por sinal. Coberta de fumaça disse: “os verdadeiros diamantes não são fabricados, eles são encontrados”. O que disse depois daquilo já nem lembro.
Meu filho!!!! Foi só no que pensei. Para ele ser um diamante ele deve ser encontrado. Dormi só duas horas aquela noite e, enquanto dormia, estava sonhando com ele. No resto da noite, matutava algumas idéias. Enfim, decidi. Vou adotar um filho. Percorro orfanatos do Brasil afora e pego o que mostrar maior futuro no mundo da bola, o craque. Já tô até imaginando. Ronaldinho Jr, com camisa 9 e tudo. Vou amá-lo, dar carinho e pôr numa escolinha de futebol.
O que não vai faltar é gente fofocando e me recriminado nos bebedouros da vida...

Axilas

Sempre presto atenção nas axilas femininas. Gosto muito. Tenho vontade de beijar, acariciar e até lamber. Parece, para alguns, até estranho, pra mim não. Nunca tive coragem de pedir ou mesmo arriscar, imaginando que nenhuma mulher deixaria. Talvez por ser mesmo estranho, ou por sentir cócegas, mas esse desejo está represado em mim até hoje.
Costumo fazer meu lanche da tarde numa lancheria próxima a meu trabalho, como sempre três pastéis acompanhados por um refrigerante. Dias atrás me deparei com uma cena horrível. Sempre observando as axilas, quando de repente enxergo aquele sovaco cabeludo, e não é modo de dizer. Aqueles pêlos tinham aproximadamente dois dedos de comprimento e uma espessura medonha. Nem nos meus piores pesadelos imaginei um sovaco tão horrível. Jamais pensei que uma mulher pudesse transformar sua axila em algo que mais parecia um rato.
Quando eu vou pra praia fico maravilhado, pois lá as axilas são bem tratadas. Nas cidades muitas vezes são tapadas e até mesmo esquecidas. Na praia não, as mulheres sabem que estão expostas aos olhares de todos. Ah... Só de lembrar já dá arrepios. Falo de quando aquelas mulheres de corpos levemente dourados, cabelos escuros e compridos, mulheres nem magras, muito menos gordas, no ponto, com as axilas bem cuidadas saem da água com o corpo ainda salgado e molhado e se espreguiçam colocando seus punhos na nuca... Nooooossa. É mágico quando as morenas fazem isto, nem mesmo as loirinhas conseguem ser tão magníficas... E você sabe como as loirinhas fazem...
Talvez, algum dia, eu tome coragem e fale que quero acariciar, beijar...bem... vocês sabem o resto. Enfim, soltar definitivamente o amante de axilas que compreendo na minha personalidade. Provavelmente vão rir de mim, mas quando forem à praia terão convicção que estou certo.

De volta pra Casa

Bem que meu amigo havia me alertado. Ele disse do risco de eu me apaixonar nessa viagem, relembrou excursões anteriores, cada uma, todas elas eu ou dou em cima de todas ou me apaixono por uma. Eu não dei ouvido às suas palavras. Sábias palavras.
Desta vez ,o encanto veio mais depressa do que de costume. Foi nos primeiros passos que enxerguei uma moça estonteante, digna de me fazer acreditar que a viagem seria boa, valeria a passagem.
Quando olhei, ela já me fitava dos pés a cabeça, seus olhos cor de mel brilharam logo na primeira troca de olhares. É claro que eu também gostei do que vi. Uma moça linda, sorridente, com uma cachoeira dourada lhe escorrendo aos ombros e a elegância de uma tigresa.
Enquanto estava acordado, durante a viagem, só voltava minha atenção ao que ela dizia a sua companheira de poltrona. Vi quando ela se referiu a mim:
_ O de cabelo crespinho ali atrás... Éééé lindinho neh!?-disse Taís, enquanto sua amiga, balançando a cabeça, concordava.
E eu só pensava nela. Taís, Taís, Taís. Pensava em tudo que podíamos fazer juntos na viagem. Acabei dormindo e, juro, sonhei com ela.
Minha irmã disse que, enquanto eu dormia, ela falava sobre mim e demonstrava afeição. Ai... a Taís...
Eu percebia que ela tirava fotos pretensiosamente comigo ao fundo. Quase sempre que eu a olhava, nossos olhares se encontravam e ela, envergonhada, disfarçava. E eu só pensava nela.
Taís. Taís. Taís...
Conversei com ela e descobri que não tinha namorado, que estudava, gostava de música gaúcha, torcia pro Inter, usou aparelho nos dentes (eu vi que um sorriso daqueles só podia ter sido esculturado por algum dentista), adora fotos(tem até um mural no seu quarto )e tem uma coleção de garrafas de bebidas, todas elas vazias.
Já estava tomado pela paixão, quando ela me disse que lutava karatê. Eu lutava e também adoro o esporte, muito mais do que futebol.
Muitos companheiros de excursão me diziam que ela reparava em tudo que eu fazia, que até sentava sempre de frente pra mim nos restaurantes. Me fazia de rogado, argumentava insistindo que era bobagem deles. Mas torcia para que fosse verdade.
Decidi que investiria num relacionamento com ela. Como faltava clima e sobrava gente pra empatar o lance armei toda uma programação para irmos a uma choperia. Convidei os que estavam cansados primeiro, pois quando os que ainda estavam dispostos vissem os outros dizerem que não iriam, também não aceitariam o convite. Só a Taís aceitou. Fomos. Nos deleitamos em chopes. E eu só pensava nela.
Taís. Taís. Taís...
Nem sei se o chope estava tão bom ou se tornava melhor pela companhia dela. E eu só pensava nela, só queria ela. Taís. Taís. Taís... Ah!! Seu perfume...Adoro aromas cítricos...
De repente, sem promessas, sem ameaças, sem nada, só na coragem. Toquei seu rosto e lhe beijei. Enfim encostei em seus lábios carnudos. Um beijo de alguns segundos, que para mim pareceram, no mínimo, trinta minutos.
Ela preferiu não contar a ninguém na viagem e continuar o romance quando chegássemos de volta à nossa cidade. Tudo bem. Eu já não vejo a hora de chegarmos, mas o ônibus pára em tudo que é praça de todas cidades que passamos. Tô louco pra falar com meu amigo, contar que me apaixonei de novo.
Cada metro de estrada pra trás, é uma contagem regressiva que vai de encontro à Taís.
E eu só penso na Taís, Taís, Taís...
Ainda bem que não dei bola pro alerta do meu amigo.
Taís. Taís. Taís...

Ela me ama, só não descobriu ainda

Faz um bom tempo que tô fazendo tudo errado. Arranjei um amor e não contei pra ela. Não tive coragem. E como era de se esperar, ela começou a namorar. Aquilo me deu um remorso pelo tempo perdido, que quase chorei. Rebati partindo pra outra. Coincidentemente ou não, amiga dela. Achei que seria mais fácil. Que nada, ocorreu quase o mesmo, a diferença foi que declarei minha admiração. Em represália a isso, parti para outra amiga delas e, adivinhem... Achei que seria moleza, que seria simples como passar pela zaga do América de Natal. Muito mais difícil, ela até parou de falar comigo.
O incrível dos dois últimos casos é que eu achei que estava arrebentando, tava nada. Achei que eu era o centroavante da vida amorosa, porém agia como um zagueiro, desses afoitos, que não sabem pra onde chutar e só chutam pro lugar indevido, as próprias redes.
Talvez até tenha contado com a sorte, pois creio que mesmo que minhas investidas nas amigas dela tivessem resultado positivo, duvido que esquecesse a moça que ainda mexe comigo. Ela que, com seus lindos cabelos negros e lisos, seu olhar que enxergo nos meus, sua boca com aquele sorriso que ninguém mais tem, sua pele, seu jeito que me hipnotiza, me deixa enfeitiçado. Sem contar que seria mais difícil uma futura aproximação.
Desta vez, vou fazer diferente. Até já entrei numa aula de violão, só pra tocar e cantar pra ela. Não vou querer ser tão centroavante, vou ficar zagueiriando por aí, até estar com o repertório todo afinadinho. E já decidi o que vou cantar. Vou começar mais ou menos assim:
_ O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade...
Depois mais umas do Bruno e Marrone, Rick e Renner, uma do Almir Sater, alguma em inglês e encerrar com Outra Vez, do rei Roberto Carlos (mas só as principais partes).
Vou cantar isso tudo na frente da casa dela. Sei que ela vai gostar. Mesmo que não goste desse tipo de música, mesmo que eu não cante bem, mesmo que eu erre a letra ou que arrebente uma corda do violão. Mulher adora música, mais que isso: elas adoram quem canta.
Ainda não decidi se, após a serenata, roubo-lhe um beijo ou simplesmente dou as costas esperando sua reação. No momento, estou como um volante de contenção, que passou por todo meio campo e agora está entre arriscar o seu primeiro gol em um time grande ou tocar pro atacante que está melhor posicionado. Até lá eu decido (só espero que não me roubem a bola). O certo é que não vou levar Ferrero Rocher, são esses malditos chocolates que dão azar.

O valor do DVD

Pensamos muito em rivalidade, mais até que no próprio sucesso. E a competição vigora no pensamento de todos desde os primórdios da existência humana.
Há competição em tudo. Em disputa por fêmeas até os animais lutam. Assim como por comida e espaço. Os mais fortes venciam. E é característica da rivalidade esmagar os derrotados e mostrar a superioridade.
Nos dias atuais, até nem é tão cruel essa seleção. Os que perdem não morrem. Continuam vivos e têm a chance da revanche. Diferentemente da Idade Antiga.
E no futebol ocorre o mesmo. Só que as revanches são impostas. O campeonato sendo com jogo em casa e outro fora, com todos adversários, proporciona a cada jogo, principalmente os do segundo turno, um ar maior de rivalidade. Um exemplo dessa rivalidade é o clássico Gre-Nau. O Grêmio, quando amargou a Segundona, transformava cada um de seus adversários em eternos rivais.
Agora o Náutico voltou a cruzar o caminho do Grêmio, maior rival do Inter. Subiu para a Série A. Mas o único rival do Náutico é o Grêmio, que fez até um DVD por ter vencido o time nos Aflitos. O Náutico já perdeu uma das oportunidades de vingar aquela derrota do dia 26 de novembro de 2005, tem mais uma, e ,desta vez, será no Olímpico.
O Inter venceu o Náutico por dois a zero. Ainda não sei se a direção do Internacional irá fazer um DVD sobre aquela vitória, que teve até um tombo do Alex após sua acrobacia em comemoração ao segundo gol da partida, o primeiro dele no campeonato.
Se vai fazer o tal DVD não sei, parece que a direção preferiu fazer três DVDs, estes alusivos aos títulos da Libertadores da América, da Recopa Sul Americana e ao Campeonato Mundial, vencido pelo Internacional e o adversário foi o favorito disparado e poderoso Barcelona.

Não queremos Bandeiras

Marcham... Marcham... E marcham... Só marcham, muitos sem sequer saber o porquê. Submetem-se a Bandeira e as Armas, alguns com pensamento patriótico, outros pelo salário recebido.
Ombro-a-ombro abraçam uma bandeira forjada a sangue de inocentes, a mando dos militares. Patriotismo a uma Nação que nunca teve liberdade e tampouco dá direitos à população, é atitude de fracos e imbecis.
Forte é o homem que tem como pátria, como natal, qualquer lugar. E que vê as Armas-inúteis à população e que só nos serve a fins repressivos- como uma maneira de sustento.
Perfeito é o que tem como estrangeiro todos os lugares. Não considera nenhuma pátria sua “mãe”. E defende a si, não a um brasão.
Sejamos soldados das Armas. Cantemos um hino que não fala da realidade. Iludimo-nos com uma história irreal de libertação, mas vivemos e morremos por nós. A Pátria não merece nem vida, tampouco sangue.

Dùvidas

Não sei se penso demais ou de menos, esta é uma dúvida que me aflige. Nesta difícil tarefa de ser e estar, vivemos sofrendo metamorfoses, não só fisicamente, mas principalmente, em nossa personalidade.
Todos nós, alguma vez na vida, já nos deparamos com as seguintes dúvidas: E agora de que devo gostar? Qual o gênero musical me agrada? Que posição jogar? Que tipo de roupa devo usar? Como levar minha vida? Que profissão seguir? Com que tipo de gente me envolver?
Nossa! Um horror!
Muitos acham que deveríamos vir com manual, outros tentam ser clones de alguém,mas o pior é que 90% escolhem o inverso do que deveriam ser.(Fonte: 10 anos de estudo psicológico desenvolvido somente pela nata da população mundial: Zé Buião, Estrela, Mão-Pelada, Jovem, Boca e o Saldanha, mas todas essas pesquisas foram idealizadas pelo saudoso Santo Louco).
Estaria, então, certo aquele corriqueiro adágio que diz que os opostos se atraem? Na física, sim. Nela, tudo é previsível, mas em relações humanas, não; e não considerar a paixão, o improvável, as loucuras, o psicológico e, até mesmo, todo nosso material genético é desumanizar a vida. Homem casa com mulher, mulher com homem, isso é simples como água, mas o gelo e o vapor? Também existem homossexuais vivendo em todo o mundo e são humanos também.
A escolha do nosso destino está ligeiramente ligada à nossa história, à nossa infância e à nossa auto-avaliação.
O gordo, geralmente, prefere casar com magra ,porque acha ruim ser gordo, valoriza mais o magro que o gordo, não deseja que seus descendentes sofram o que ele sofreu na infância.
O “cara” que banca de “pegador” é, no seu íntimo, um romântico iludido e abandonado por alguém que amou.
O goleiro, na maioria das vezes, torna-se goleiro por indecisão, demora a decidir sua posição, tenta todas, acaba não pegando características de nenhuma, mas, às vezes, até o goleiro tem sorte e se destaca no gol.
O juiz de futebol sonhava em ser jogador, mas era o último a ser escolhido. Era o que queria sempre estar entre os jogadores. Agora se sente bem em correr na volta deles, pois apesar de ser xingado acha que tem autoridade.
O bandeirinha é o pior dos casos, ele ainda sonha em ser juiz.
Já, as pessoas românticas, que preferem namorar uma pessoa só a “ficar” com uma e outra, têm seu instinto “pegador”e “galinha”, só que tentavam “pegar geral” e sua tentativa era frustrada. Então, quando se acerta com alguém, tenta cultivar.
O professor talvez seja alguém que teve carência de ensinamentos.
E, é por isso que não sei se penso demais ou de menos ou se também sou um louco. Deveria mesmo ser centroavante? Por que escrevo, não deveria estar correndo? Será que alguma situação estive entre os 10 %?

Cinema Gabrielense

Ainda sou do tempo do cinema em São Gabriel. Já bem diferente do que contam meu pai e meus tios em seus tempos de trocar figurinha em frente ao cinema de varias sessões semanais, mas sou.
Foi numa época de nuvens de “cascudos” sobrevoando e logo caindo sob nossas cabeças. Época em que convencíamos ou lubridiavamos o porteiro de nos deixar isento do pagamento de cinco reais. Há pouco tempo implantada a nossa moeda, achávamos que enganávamos o porteiro e ainda lembro daquele prazer de passar do lado da roleta e correr pro interditado 2° piso. Nunca mais vi o solidário porteiro. Gostaria de agradecê-lo
Meu primo e eu éramos uma dupla, jogávamos futebol em pleno calçadão, com luminárias como goleiras. Atrás de cada par de luminárias, arbustos cheios de espinhos. Furamos muitas bolas, acertamos muitas boladas em pessoas que passeavam pelo nosso campo, o calçadão, ouvimos e também xingamos bastante, fizemos muitos gols, mas o que nos fazia correr dali era quando dávamos boladas nos bojos das luminárias a 3 metros de altura. Os bojos eram de vidro. Aqueles vidro branco, bonito. Blem... no chão, todo quebrado. Corremos muitas vezes acho que fugíamos antes do bojo se espatifar em cacos no chão.
Agora, com a cidade sendo novamente tomada pelos besouros, renasce a esperança de ver o cinema funcionando, um “bando” de guri jogando bola em frente ao, agora, centro de eventos e juntando “cascudos” em grandes copos e os enchendo com água quente do lendário chimarródromo.
Só que o tempo não volta. Passo pelo calçadão, ainda são as mesmas luminárias, soque os bojos agora são de plástico. O arbusto de espinho espeta agora minha lembrança em não o ver mais.
Não tem maiôs ninguém correndo pelo calçadão, salvo alguém apressado. As linhas amarelas as quais corríamos sobre elas já estão apagadas. E, alem de tudo, tem um “guardinha” que não deixa nem andar de bicicleta no calçadão. Como pode haver diversão assim?
Provavelmente eu tenha sido um dos jogadores da ultima partida de futebol do calçadão.

Bilhete do Amor

“Nunca te disse isso, mas eu te amo. Durou mais do que eu previa e menos do que eu queria. Não posso continuar.”
Foi a única coisa que dizia naquele bilhete que recebi. Foi uma das frases mais belas e tristes que já li. Foi a maior declaração e o pior desfecho de uma história, tão linda história.
Quantas vezes eu ouvi: tu é demais, tudo que qualquer guria pode querer, o problema não é tu, não é nada que tu tenha feito. Sou eu.
Esta é a pior frase que se pode esperar. Melhor que diga que eu não presto e coisa e tal. É mais simples. Mais fácil argumentar. Mas falar o quê quando o problema é ela?
Angustiado, atônito, embasbacado com o bilhete na mão: li e reli, li e reli, li e reli.
Passei a recordar cada momento do nosso romance. Acho que eu também nunca disse que a amava, nem sei se amava, mas poderia ter dito meia dúzia de vezes. Também não reparei que ela também nunca tinha declarado seu amor. E ali dizia que ela me amava. Ela me ama. Me ama. Me ama. Ela me ama...
Se ela me ama, porque nunca disse? Pior. Por que não pode continuar? Por que o bilhete? Se dissesse que não me queria, que não gostava mais de mim eu até entenderia.
Isso! Ela quer é me atormentar. Não acredito que ela não me queira mais, não depois de escrever que me ama. Tá é se fazendo de difícil, afinal eu sempre a tive fácil demais. Ela está certa em agir assim, tem mesmo que se dar valor.
Fico com meu ceticismo, ainda acho que ela me quer. Do contrário, não faria tudo isso. Mexeu comigo, conseguiu com que eu sentisse medo de perdê-la, me fez refletir e realmente me atormentou. Como as mulheres conseguem isso?
Só elas mesmo.
Estou achando, até, que eu a amo.

Noites de Sábado

Divorciado, bem sucedido profissionalmente, 40 anos, sem muito o que fazer durante a semana, mas hoje é sábado. Tenho freqüentado um barzinho, no centro, ultimamente. Não é qualquer barzinho, é o mesmo bar. Um bar elegante, não tão badalado, é verdade. E badalação é tudo o que um solteirão deveria buscar, ao menos nos sábados. Porem ele tem algo fascinante, um ar de sensualidade que, talvez apenas eu sinta, não sei.
O que tem me levado lá é a música. Ela canta. E canta muito bem. Parece que escuto a voz dela como um cochicho em meu ouvido, e a luz baixa deixa-a ainda mais bela. Sempre peço ao garçom que ela cante a musica Sozinho, só para ouvir “... às vezes no silencio da noite, eu fico imaginando nos dois...”, clássico. Fico olhando-a incansavelmente, e tenho a impressão que ela canta pra mim.
Desta vez estava confiante, quando percebi que ela estava com os olhos em mim, toquei discretamente em minha garganta, sinalizando que gostaria de falar com ela. Ela piscou lentamente os olhos.
Ao término do show, ela levantou-se, agradeceu, poucas pessoas, solteiros, casais, amigos, amantes, desconhecidos, desceu do palco que comportava um banco, um microfone, ela. Vestia um lindo vestido azul com uma fenda ao lado que deixava suas coxas a mostra, suas curvas e um decote que escondia, mas não tapava. Nossa! Uma mulher que leva a loucura o imaginário de qualquer homem.
Sentou-se ao meu lado, no balcão: O que um belo homem faz três noites seguidas, e sozinho? Disse ela tocando seus cachinhos.
_ O primeiro foi culpa do acaso, os outros foi você.
Fui objetivo como nunca, levado pela circunstância e otimismo, falei exatamente o que deveria. E sem ga guegue jjjar.
Antes que o silencio das minhas palavras ecoasse: Acompanha-me num Drink?
_ Sim a noite é longa. Sua resposta veio acompanhada por um lindo sorriso insinuante.
Pedi dois Dry Martini ao garçom, o meu com pouco gelo e com uma dose maior de vermute.Seus olhos, seus poros, seu cheiro, sua boca, meu olhar, minha inquietação. Enfim chegou o sábado, e noite acaba de iniciar.

Sim, somos cachorros

Waldick Soriano até que tenta nos defender cantando: “Eu não sou cachorro não”. Mentira. Eu me pus a contar sobre as falsidades do universo feminino, mas o destino colocou a pedra da consciência em minha frente. Vou falar das canalhices de nós, homens. Dou alguns exemplos.
Dia desses, saímos, dois amigos e eu. Fomos a um churrasco. Na casa de algumas “amigas” do colégio. Cada um inventou uma desculpa a suas namoradas e fomos para a festinha. Quando foi de tardezinha ligamos os celulares. Em menos de cinco minutos começaram a tocar. Começaram as desculpas esfarrapadas:
_ Bah, amor! No sítio não pegava o celular, eu mesmo tentei te ligar, cheguei a subir numa árvore, nem assim consegui.
Sem demora a próxima:
_Que desligado, o quê!? Eu que tentava te ligar e sempre dava ocupado. Com quem tu tava falando todo esse tempo? E ainda vem dizendo que o meu que tava desligado, francamente...(e desligou o telefone na cara dela).
Quase ao mesmo tempo, a minha namorada me ligou, indagando o porquê do meu celular estar desligado ou fora de área. Sem demora respondi:
_ É que o Lucas tava me convidando pra um jogo no final de semana, quando cheguei no posto de gasolina e ali tinha uma baita placa alertando do perigo de entrar com o celular ligado. E tu sabe, amor, que eu sou muito azarado. Tive que desligar. Enfim, acabei esquecendo de ligar novamente, mas daqui a pouco eu chego aí. Beijo.
Cada telefonema desses foi um festival de gargalhadas. Uma mentira mais genial que a outra. Claro que todas colaram. Somos cachorros mesmo.
Mas a culpa é delas mesmas, as mulheres, que nos rotulam assim. Deixando-nos, não somente na direito, mas também na obrigação da cachorrice.
Então gritemos: Sim, eu sou cachorro. Temos que admitir, até porque de uma forma ou de outra somos mesmo. Têm os encoleirados e os sem dona, estes em duas versões: os cachorrões e os cachorrinhos.
E vou aproveitar este espaço para fazer um anúncio publicitário às mulheres: Sou vacinado, acostumado com gente, dentes saudáveis, pêlo macio, cheiroso, tenho pedigree e não mordo (só se pedir!).

Mesinha da cama

Ainda busco uma forma rápida e prática de ter e controlar a inspiração para escrever. Já tentei várias formas. Algumas boas. Outras nem sei, pois deixei passar e acabei não escrevendo. A inspiração parece ter voltado, após ter abusado de suas férias. Cheguei a achar que havia perdido para sempre, assim como Marcos, o profeta, perdeu seus poderes.
Geralmente começo da conclusão para depois o desenvolvimento. As frases vem soltas e prontas na mente. É só juntar tudo e fazer. Parece muito fácil, mas não é. Essas idéias aparecem de repente e eu nunca tenho papel à mão. Tenho sorte quando tenho e escrevo o pensamento principal pra desenrolar mais tarde.
E é ai que complica. Os lugares que me sinto mais a vontade são no sofá da sala e na minha cama. Isso é um castigo pra minha coluna. Ainda mais com esses frios que ta fazendo nesse inverno.
Tenho um plano! Desenvolver uma espécie de mesinha que eu coloco em cima da cama. E que eu fique sentado na cabeceira e tapado. Bem tapado. Uma mesa do estilo dessas que usam pra levar café na cama. Só que adaptada pra escrita.
Até já tenho o assunto para a inauguração da tal mesa. Fala sobre a impunidade dos jogadores dentro da área e a dos casais no relacionamento. Esta ta sendo martelada a tempos. Creio que será a melhor de todas. Só espero que essa mesinha não tire a magia de escrever na cama.

O feitiço contra a FEITICEIRA

Estávamos vivendo às mil maravilhas. Ela me jurava amor eterno. Que eu era tudo para ela, a melhor coisa que já havia acontecido em seus 20 anos de vida.
Eu, no começo, nem gostava tanto dela, mas como não iria me apaixonar por aquela moça, loira, olhos verdes, um metro e setenta - bem minha altura-terna, cheirosa, carinhosa, companheira, inteligente, quente. E era colorada, apesar de não acompanhar o futebol. Até sua mãe me adorava.
Dela eu só não gostava duas coisas: uma era seu péssimo costume de repreender as pessoas quando falavam errado, chegava a ser constrangedor. Ela não perdoava nenhum erro. Outra eram suas amigas, em especial a Claudinha, ninguém me tira da cabeça que ela tentava aproximar seu irmão da minha namorada. Ela dizia que não, que essa história era sem-pé-nem-cabeça. E eu nem insistia tanto no assunto para que não despertasse nela sequer a intenção de reparar no sujeito. Até porque, ela repetia para quem quisesse ouvir, que eu era sua alma-gêmea e declarava seu amor a todo instante.
Ela também era tudo para mim, só o que me fazia parar de pensar nela era o futebol, não exatamente o futebol, o INTER. E ela tinha um certo ciúmes disto, embora não reclamasse.
E este sentimento foi colocado à prova. O meu time do coração iria disputar cinco jogos consecutivos no Beira-Rio. Quatro deles pelo Brasileirão e um pela Libertadores. Definitivamente não iria perder esta oportunidade ímpar. Ainda mais que o Inter estava com um time impecável, uma máquina. Com o argumento de que “para afastar é só aproximar e para aproximar é só afastar” palavras ditas por Paulo Santana, parti à capital, deixando-a em São Gabriel aos olhos de todos meus amigos.
Passávamos o dia intero nos falando, ora por telefone, ora pela internet. No dia do segundo jogo do Colorado, ela me ligou, uma hora antes da partida. Por medo de ser assaltado, deixei meu celular, desligado, na casa do tio Adolfo, onde eu estava hospedado.
No outro dia, estranhei que ainda não tinha me ligado. Mas tudo bem. Até que o Júnior me ligou, apavorado, não sabia nem por onde começar, gaguejando mesmo me contou que viu a Paula com outro cara, o Tiago, aquele irmão de sua amiga. Passei o dia abatido. Eu tinha razão. Aquela vadia.
Na noite seguinte vesti minha melhor roupa e fui pro centro. Todo pimpão, cai na gandaia. E Porto Alegre é um paraíso particular da esbórnea. Me vinguei.
Para minha surpresa, dois dias depois chegou uma carta, pra mim. Era dela, é claro. Me xingando, falando que eu era um traste, que seu novo amante era melhor do que eu em TUDO (assim com letras graúdas), que nunca sentiu prazer em estar comigo, que nunca me amou, que sempre me enganou e que era gremista.
Era tudo mentira. Ela era muito orgulhosa e vaidosa, na certa esperava que eu retornasse um poema com as palavras mais lindas, declarando meu amor e implorando que voltasse atrás. Só para mostrar para suas amigas o quanto era idolatrada, só para se exibir.
Comprei um envelope, o mais bonito que encontrei, peguei uma caneta vermelha e comecei a corrigir os erros ortográficos da carta. No final coloquei: NOTA 35, e acrescentei um “PRECISA MELHORAR”, em letras garrafais também.
Eu vi o INTERNACIONAL vencer as cinco partidas, cada jogo foi um espetáculo, um massacre sobre cada um dos adversários. Passei uma inesquecível noite de prazer. Mas trocaria tudo isso por ver a cara dela quando, junto com suas amigas, abrisse a carta que lhe enviei.

Uma Importante Confissão

Tenho que confessar. Já não agüento mais carregar esse segredo. É uma confissão deveras complicada. Vergonhosa, até.
Eu nunca ganhei gincana!!!
Pronto. Confessei. Depois de muito tempo sem revelar a ninguém, confesso a todos vocês, meus leitores. Estou até me sentindo mais leve.
Já imagino a reação do Gordo, meu amigo desde os tempos lá da Sete de Setembro. Ele sempre me respeitou como gincaneiro. Deve estar escondendo seu rosto, agora e falando baixinho: “Que vergonha, que vergonha!”.
Não duvido de que ele me ligue pra saber se é verdade. Sim Gordo, é a mais pura verdade.
E tem mais... (agora ele deve estar em pânico) , nas duas escolas em que estudei ,tinha muita disputa pela gincana, rivalidade mesmo. Toda uma cultura e um misticismo que envolvia a gincana. No Fundamental, entrei em equipes fracas e nunca fomos além da expectativa. Já no Ensino Médio entrei na atual campeã. Perdi. No segundo ano, entrei na que eu tinha visto ganhar no ano anterior. Ganhei bastante prestígio na equipe, tive certa liderança, participei de quase todas as tarefas. Perdemos. No ano seguinte, a equipe campeã me convidou a integrar seu grupo. Aceitei. Com créditos, lá dentro fui um dos líderes. Fomos roubados. Descaradamente roubados, vergonhosamente roubados. Perdemos. Perdi de novo. E desta vez merecia erguer a tão desejada taça.
A essa altura, o Gordo já se comoveu com a minha saga. Mas e os outros? Quantos companheiros eu repreendi, cobrei mais empenho. Eles tiveram medo de discutir comigo- bem sei- porque achavam que eu sabia como ganhar gincana e os conduzia a isto. Claro que fui importante às equipes, sem sombra de dúvidas, mas fui também um baita pé-frio.
Esse ano me convidaram novamente, mas eu gosto tanto desta equipe que prefiro só ver. E de longe.

A Igreja Mudou minha Vida

Sempre segui a risca e adorava o dito: de graça até injeção na testa. E olha que eu nem precisava de tantas coisas gratuitas que aceitava.
Ônibus errado, bala, pedacinhos de papel sem valor algum, consulta odontológica, óptica, de coração, tratamento capilar, chimarrão, sucos, chocolates, bergamotas nos mercados, abraços entre tantas outras coisas.
E o que eu podia eu guardava. Frascos de amostra grátis, pacotes de erva-mate e, até, copos. E eu idolatrava aquilo. Todo o sábado limpava um por um todas aquelas bugigangas.
Mas me ocorreu um fato que me fez mudar tudo o que eu pensava sobre o assunto. Estava caminhando em busca de nada, pelo centro, quando, de repente, alguém me estende um jornal. Sem hesitar perguntei se era de graça. Claro que era, era um jornal de igreja. Peguei e ainda comentei: de graça até choque. Talvez tenha sido aí o meu erro. Uma vez me disseram: “não dê assunto pra desconhecido”, mas por alguns instantes eu me esqueci, ou não dei bola ou até imaginei que estava falando com alguém inofensivo. Mas saiu e só percebi depois que já tinha fechado a boca.
Sem pestanejar, a moça que estava distribuindo os jornais me perguntou se eu desejava colocar meu nome para a oração. E não é que eu aceitei. Quando eu estava escrevendo meu nome, cuidei pra cima e já estava vindo mais uns três da igreja ao meu encontro. E vinham... e já estavam a uns cinco metros e eu ainda estava no Nunes, ainda faltavam mais dois nomes. E eles cada vez mais perto. Dois vestindo preto e mais uma de branco atrás deles.
Nem bem eu tinha me posto ereto, ofereceram pra que eu fosse visitar a igreja deles. Vacilei. Até nem ia entrar. Já pensava numa desculpa boa pra não ser mal educado e ir embora e esperar que orassem por mim. Mas, ao mesmo tempo em que a moça de calça branca colocava meu nome numa caixinha que estava no chão- ela naquela posição, com a marca de uma minúscula calcinha e eu que já tinha uma tara especial por mulheres de calça branca- a moça do jornal ainda brincou: “é de graça”. Irresistível. Não pude me conter e entrei. Afinal saí de casa em busca de nada, o que viesse seria lucro.
Mostraram-me toda aquela rica igreja e me deixaram ir embora, saí dali pensando: como eles têm tanto dinheiro? Antes das sete, quando eu já estava em casa, o pastor, eu acho, bateu na minha porta.
_ Vim te convidar pra assistir a reunião hoje. Falou antes mesmo de eu poder perguntar como ele havia descoberto meu endereço.
_ Aceita uma carona? Indagou novamente, isso tudo em questão de segundos.
Aquele monte de informações na mesma hora me agoniou tanto que não sabia nem o que falar.
_Hã? Foi o máximo que consegui pronunciar.
_ Sim, vamos à reunião? Começa daqui a pouco! Insistia aquele homem.
_ Não vou. Não adianta insistir, se tu não sair daqui agora mesmo vou chamar a polícia.
Fechei a porta. Espiei pelo olho-mágico e ele ainda estava na mesma posição.
Fui um grosso com aquele pobre rapaz, mas se eu não falasse tudo aquilo tenho certeza que ele iria me convencer de ir naquela maldita reunião. E eu ainda tinha que ver o jogo da Seleção Brasileira contra um combinado de Uzbequistão. E como eu iria perder um jogão desses?
Olhei novamente, uns dois minutos depois, ele já havia saído.
Ufa! Estou livre.
Por fim nem consegui olhar o jogo. A TV a cabo que recém tinha assinado estragou. Fiquei olhando Torre de Babel, na Globo.
Pior foi que não dormi a noite inteira. Uma paranóia dessas que nos transforma em algo semelhante a uma barata tonta. Perdi horas daquela noite fria colocando todos aqueles lixos que ganhei e não tinham serventia nenhuma. Só serviam pra juntar traças, baratas e uns bichinhos cinza que não sei o nome.
O pesar foi quando terminei de juntar tudo aquilo em dois sacos e coloquei-os na lixeira. Apesar de ser lixo, era meu.
Já eram quatro horas da matina, o sol ainda nem havia despontado, quando decidido a nunca mais pegar nada que fosse de graça, fui dormir.
Às oito horas já estava no colégio. Foi quando o professor de matemática propôs um desafio. Falou brincando:
_ Quem conseguir resolver esse exercício vai ganhar uma viagem pra Bagdá.
Uma tentação, apesar de saber que lá está sempre explodindo bombas. Eu fui o único da turma que conseguiu resolver o exercício, sabia que tinha acertado. Sequer mostrei ao professor.
Mais tarde, voltando pra casa, fui encher o tanque do carro e, sorridente, vinha uma moça com um copo d’água numa bandeja. Veio pro meu lado e nem falou nada, só me alcançou. Eu sempre aceitava, embora não estivesse com sede.
_ Não, obrigado. Estou de dieta. Ela riu.
Foi a coisa mais inteligente que eu consegui falar.
Agora, nem papel na rua eu pego. Nem por educação. Nem pra largar na primeira lixeira que encontrar.
E o pior é que eu fico imaginando os milhares de descontos e oportunidades que eu posso perder, mas não pego.
Sou um grosso!
E foi a igreja que me deixou assim.

ELDER NUNES CORRÊA JUNIOR

Amanda

Como faço pra escrever um poema sem usar seu nome?
Como falar nas belezas da vida sem você?
F
alar nas flores sem sentir seu perfume
Falar e
m cores sem ver seus olhos
F
alar de doces sem desejar sua boca
Falar
nas estrelas sem mais enxergar a que lhe dei
Falar no passa
do sem ter passado contigo
F
alar de tristeza sem lembrar seu choro em meu ombro
Falar em mulher... Falar de amor... Sem pensar em você
Amanda