sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A lancheria amarela e a plataforma de rolha

Se eu fosse mulher é certo que usaria só aqueles vestidinhos de verão, aqueles bem soltos, sem costuras. Qualquer magrinha se torna desejo incontrolável de todos os homens.
Existe algum misticismo que envolve esses vestidos. O mesmo acontece com as sandálias rasteirinhas. As mulheres, principalmente as de pernas cumpridas, passam do nível das “Olivia Palito” pro patamar das gostosinhas, só em combinar essas duas misteriosas peças.
Atenção mulheres!!! O inverso também ocorre, e muito. Quando as gostosinhas vestem suas calças de um numero maior com uma sandália de plataforma.
Claro que ainda prefiro que elas usem tamancos ou sandálias com salto, mesmo que pequenos. Isso deixa a panturrilha e toda a perna mais firme e muito mais sensual.
Acho que vou lançar uma campanha: “Não use plataforma”. Vou sair gritando e carregando uma faixa pela rua. Sei que muitos de meus amigos vão me ajudar. Até já conversei com eles. Foi unânime. Todos repudiam plataforma.
Talvez até criem uma lei proibindo o uso. De tanto pedirem a CBF acatou e vai voltar a organizar o Brasileirão com finais.
Agora impunho a bandeira contra um bar e lancheria. O “PELOTAS LANCHES”. Eu passava na frente e pensava: vou lanchar aqui qualquer dia desses. É que me agradou o ambiente e todo aquele amarelo chama mesmo a atenção, fora as mesinhas junto ao estacionamento que o carro-lanche está situado.
Depois de um joguinho com os amigos fomos até o tal bar. O Paulo cegou dizendo: “SA-TO-LE-P SEH-CNAL. Que é PELOTAS LANCHES invertido. Ele tem essa mania de ler as coisas invertidas. Mas tive que concordar que SATOLEP LANCHES ficaria melhor. Até existe uma lancheria com esse nome. E até é parecida com a que eu relato. Sentei e pedi uma Polar e três copos. O Tiago um refri e mais três copos. Veio primeiro minha cervejinha e os três copos, depois a guaraná e dois copos. Pedimos outro copo. Ele não ouviu. Chamamos-o novamente. Com demora trouxe-nos o copo e eu aproveitei pra pedir a segundinha. Calculava tomar umas cinco, seis. Mas ele não trouxe. Seguiu como se não tivéssemos pedido nada.
Levantei e falei: “vamo embora”. Juntei o dinheiro. Seis reais. Assobiei pro atendente:
_Seis neh!? –mostrei o dinheiro e larguei na mesa.
Ele sinalizou, com a cabeça, que era esse valor.
Fui embora dizendo: perdeu um cliente. Outro disse: “nunca mais piso aqui” todos pensaram o mesmo. Só não reclamei porque o cara é um baita negão, desses forte e grandão que lutam jiu-jítsu e tem a orelha de lutador de luta - livre. Não da pra “mete” com um cara daqueles.
Rumamos até o próximo bar que encontramos. Lá bebemos até cansar e discutir todos os lances do jogo e falar mal do bar que tínhamos ido.
Aquela lancheria amarela, onde fomos mal atendidos, foi como uma gostosa de plataforma.
Por isso eu insisto: uma plataforma e um mau atendimento espantam a freguesia.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Interferência

A música q toca no rádio faz lembrar vc
sei q a gente não tem nossa música
e nem precisava, neh
nos faziamos nossa própria melodia
com a natureza e seus efeitos especiais
com o barulho dos nossos lençois
com o vapor da cerveja
e nossos pés nos pé-da-mesa
nossa música só cantava alegria
e agora. que ironia
canta tristeza e nostalgia
não acredite nas maldades
vamos matar a saudade
vamos voltar a cantar a beleza
pq hj eu tenho certeza
meu amor é mais puro q de criança
e isso me enxe de esperança
vamos olhar pra tras
e nos matar de rir. ou chorar
o q nos fizeram não se faz
acredite em mim
ou até nunca mais
nosso amor calado tem que ser maior q tudo
muita coisa eu não sei dizer
as vezes não sei o q tu qr
mas sei o q almejo:
q tu seja pra sempre minha mulher
vem, me abraça forte e da um beijo
deixa eu ser a faca e tu o queijo
um pro outro fomos feitos
te desejo com ternura e serenidadete
amo com ardor e vorassidade
vou gritar pra toda cidade:
te qro hj e sempre meu amor



Esses versos simbolizam a parte boa duma relação que já acabou, mas que foi marcante em seus melhores momentos.
So que foi marcante também nos maus momentos. O que é uma pena.

Agora vejo que não merece replay

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Esse é meu Guri

Ouço cochichos pelos corredores. Sei que são sobre mim. Eles dizem: será que ele nunca vai casar? E nem ter filhos? Imagina daqui a uns dez anos...
O pessoal adora uma fofoquinha. Principalmente ali perto do bebedouro. Acho que vou colocar câmeras e gravadores escondidos, só pra ver o que acontece.
Mas sabe... Estes cochichos deles, eu mesmo me indagava a algum tempinho. Sobre casar, não pretendo. Imagina eu colocar uma mulher a morar comigo, dividir minhas gavetas e bagunçar meu banheiro. Encher meu banheiro de creminhos; meu dia de perguntinhas e minha paciência com te-pe-eme-zinhas. Não. Definitivamente, não.
Filhos... Esta é uma questão que estava a caminho. Não pensem que engravidei alguma mulher por aí. Muito menos que mandei abortar. Não sou tão irresponsável assim. Iria inovar. Faria um filho numa produção independente. Só para eu criar, a meu gosto. Procurava genética, as mais cotadas seriam as morenas, altas, forte e sem perder a beleza feminina, é claro. Preferencialmente com um metro e noventa, um e noventa e cinco. E nenhum parente de primeiro grau com menos de um metro e oitenta.
Todas estas exigências genéticas para ter um filho jogador de futebol. Meu pai queria ser jogador, não conseguiu. Queria que eu fosse, eu não emplaquei. Agora vai, pensei. Eu até que era um bom centroavante, nos meus tempos de guri (dos 15 aos 30 anos). Agora, com quarenta e tantos, sem toda aquela velocidade e virilidade, que o tempo me tomou, andejo pelas arduras da zaga.
Mas que ele não invente de ser lateral. Que fosse goleiro, às vezes, até os goleiros tem sorte. Lateral não vale nada e é o que mais corre. Só sofre. Melhor que siga a dinastia da família. Um matador.
Agora com a careca aparecendo, junto com os fios brancos, muitos brincam: “e aí Dr. Ronaldo, careca hein...” Ou: “gordinho que nem o outro Ronaldo”. Vejam, eu tenho até nome de craque, jogava na mesma posição que ele. Onde foi parar o brilho do meu futebol, poxa!
Parece que, quando tudo está se encaminhando bem, aparece uma voz e diz que devemos tomar outro rumo. Foi exatamente o que aconteceu.
Sem o que fazer numa segunda à noite, resolvi ver um filme. As Panteras, eu acho. Tudo normal, até que apareceu uma alma, do nada, e estes espíritos quando aparecem é pra deixar uma moral, sempre. Prestei atenção naquela fantasminha, que era muito sexy, por sinal. Coberta de fumaça disse: “os verdadeiros diamantes não são fabricados, eles são encontrados”. O que disse depois daquilo já nem lembro.
Meu filho!!!! Foi só no que pensei. Para ele ser um diamante ele deve ser encontrado. Dormi só duas horas aquela noite e, enquanto dormia, estava sonhando com ele. No resto da noite, matutava algumas idéias. Enfim, decidi. Vou adotar um filho. Percorro orfanatos do Brasil afora e pego o que mostrar maior futuro no mundo da bola, o craque. Já tô até imaginando. Ronaldinho Jr, com camisa 9 e tudo. Vou amá-lo, dar carinho e pôr numa escolinha de futebol.
O que não vai faltar é gente fofocando e me recriminado nos bebedouros da vida...

Axilas

Sempre presto atenção nas axilas femininas. Gosto muito. Tenho vontade de beijar, acariciar e até lamber. Parece, para alguns, até estranho, pra mim não. Nunca tive coragem de pedir ou mesmo arriscar, imaginando que nenhuma mulher deixaria. Talvez por ser mesmo estranho, ou por sentir cócegas, mas esse desejo está represado em mim até hoje.
Costumo fazer meu lanche da tarde numa lancheria próxima a meu trabalho, como sempre três pastéis acompanhados por um refrigerante. Dias atrás me deparei com uma cena horrível. Sempre observando as axilas, quando de repente enxergo aquele sovaco cabeludo, e não é modo de dizer. Aqueles pêlos tinham aproximadamente dois dedos de comprimento e uma espessura medonha. Nem nos meus piores pesadelos imaginei um sovaco tão horrível. Jamais pensei que uma mulher pudesse transformar sua axila em algo que mais parecia um rato.
Quando eu vou pra praia fico maravilhado, pois lá as axilas são bem tratadas. Nas cidades muitas vezes são tapadas e até mesmo esquecidas. Na praia não, as mulheres sabem que estão expostas aos olhares de todos. Ah... Só de lembrar já dá arrepios. Falo de quando aquelas mulheres de corpos levemente dourados, cabelos escuros e compridos, mulheres nem magras, muito menos gordas, no ponto, com as axilas bem cuidadas saem da água com o corpo ainda salgado e molhado e se espreguiçam colocando seus punhos na nuca... Nooooossa. É mágico quando as morenas fazem isto, nem mesmo as loirinhas conseguem ser tão magníficas... E você sabe como as loirinhas fazem...
Talvez, algum dia, eu tome coragem e fale que quero acariciar, beijar...bem... vocês sabem o resto. Enfim, soltar definitivamente o amante de axilas que compreendo na minha personalidade. Provavelmente vão rir de mim, mas quando forem à praia terão convicção que estou certo.

De volta pra Casa

Bem que meu amigo havia me alertado. Ele disse do risco de eu me apaixonar nessa viagem, relembrou excursões anteriores, cada uma, todas elas eu ou dou em cima de todas ou me apaixono por uma. Eu não dei ouvido às suas palavras. Sábias palavras.
Desta vez ,o encanto veio mais depressa do que de costume. Foi nos primeiros passos que enxerguei uma moça estonteante, digna de me fazer acreditar que a viagem seria boa, valeria a passagem.
Quando olhei, ela já me fitava dos pés a cabeça, seus olhos cor de mel brilharam logo na primeira troca de olhares. É claro que eu também gostei do que vi. Uma moça linda, sorridente, com uma cachoeira dourada lhe escorrendo aos ombros e a elegância de uma tigresa.
Enquanto estava acordado, durante a viagem, só voltava minha atenção ao que ela dizia a sua companheira de poltrona. Vi quando ela se referiu a mim:
_ O de cabelo crespinho ali atrás... Éééé lindinho neh!?-disse Taís, enquanto sua amiga, balançando a cabeça, concordava.
E eu só pensava nela. Taís, Taís, Taís. Pensava em tudo que podíamos fazer juntos na viagem. Acabei dormindo e, juro, sonhei com ela.
Minha irmã disse que, enquanto eu dormia, ela falava sobre mim e demonstrava afeição. Ai... a Taís...
Eu percebia que ela tirava fotos pretensiosamente comigo ao fundo. Quase sempre que eu a olhava, nossos olhares se encontravam e ela, envergonhada, disfarçava. E eu só pensava nela.
Taís. Taís. Taís...
Conversei com ela e descobri que não tinha namorado, que estudava, gostava de música gaúcha, torcia pro Inter, usou aparelho nos dentes (eu vi que um sorriso daqueles só podia ter sido esculturado por algum dentista), adora fotos(tem até um mural no seu quarto )e tem uma coleção de garrafas de bebidas, todas elas vazias.
Já estava tomado pela paixão, quando ela me disse que lutava karatê. Eu lutava e também adoro o esporte, muito mais do que futebol.
Muitos companheiros de excursão me diziam que ela reparava em tudo que eu fazia, que até sentava sempre de frente pra mim nos restaurantes. Me fazia de rogado, argumentava insistindo que era bobagem deles. Mas torcia para que fosse verdade.
Decidi que investiria num relacionamento com ela. Como faltava clima e sobrava gente pra empatar o lance armei toda uma programação para irmos a uma choperia. Convidei os que estavam cansados primeiro, pois quando os que ainda estavam dispostos vissem os outros dizerem que não iriam, também não aceitariam o convite. Só a Taís aceitou. Fomos. Nos deleitamos em chopes. E eu só pensava nela.
Taís. Taís. Taís...
Nem sei se o chope estava tão bom ou se tornava melhor pela companhia dela. E eu só pensava nela, só queria ela. Taís. Taís. Taís... Ah!! Seu perfume...Adoro aromas cítricos...
De repente, sem promessas, sem ameaças, sem nada, só na coragem. Toquei seu rosto e lhe beijei. Enfim encostei em seus lábios carnudos. Um beijo de alguns segundos, que para mim pareceram, no mínimo, trinta minutos.
Ela preferiu não contar a ninguém na viagem e continuar o romance quando chegássemos de volta à nossa cidade. Tudo bem. Eu já não vejo a hora de chegarmos, mas o ônibus pára em tudo que é praça de todas cidades que passamos. Tô louco pra falar com meu amigo, contar que me apaixonei de novo.
Cada metro de estrada pra trás, é uma contagem regressiva que vai de encontro à Taís.
E eu só penso na Taís, Taís, Taís...
Ainda bem que não dei bola pro alerta do meu amigo.
Taís. Taís. Taís...

Ela me ama, só não descobriu ainda

Faz um bom tempo que tô fazendo tudo errado. Arranjei um amor e não contei pra ela. Não tive coragem. E como era de se esperar, ela começou a namorar. Aquilo me deu um remorso pelo tempo perdido, que quase chorei. Rebati partindo pra outra. Coincidentemente ou não, amiga dela. Achei que seria mais fácil. Que nada, ocorreu quase o mesmo, a diferença foi que declarei minha admiração. Em represália a isso, parti para outra amiga delas e, adivinhem... Achei que seria moleza, que seria simples como passar pela zaga do América de Natal. Muito mais difícil, ela até parou de falar comigo.
O incrível dos dois últimos casos é que eu achei que estava arrebentando, tava nada. Achei que eu era o centroavante da vida amorosa, porém agia como um zagueiro, desses afoitos, que não sabem pra onde chutar e só chutam pro lugar indevido, as próprias redes.
Talvez até tenha contado com a sorte, pois creio que mesmo que minhas investidas nas amigas dela tivessem resultado positivo, duvido que esquecesse a moça que ainda mexe comigo. Ela que, com seus lindos cabelos negros e lisos, seu olhar que enxergo nos meus, sua boca com aquele sorriso que ninguém mais tem, sua pele, seu jeito que me hipnotiza, me deixa enfeitiçado. Sem contar que seria mais difícil uma futura aproximação.
Desta vez, vou fazer diferente. Até já entrei numa aula de violão, só pra tocar e cantar pra ela. Não vou querer ser tão centroavante, vou ficar zagueiriando por aí, até estar com o repertório todo afinadinho. E já decidi o que vou cantar. Vou começar mais ou menos assim:
_ O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade...
Depois mais umas do Bruno e Marrone, Rick e Renner, uma do Almir Sater, alguma em inglês e encerrar com Outra Vez, do rei Roberto Carlos (mas só as principais partes).
Vou cantar isso tudo na frente da casa dela. Sei que ela vai gostar. Mesmo que não goste desse tipo de música, mesmo que eu não cante bem, mesmo que eu erre a letra ou que arrebente uma corda do violão. Mulher adora música, mais que isso: elas adoram quem canta.
Ainda não decidi se, após a serenata, roubo-lhe um beijo ou simplesmente dou as costas esperando sua reação. No momento, estou como um volante de contenção, que passou por todo meio campo e agora está entre arriscar o seu primeiro gol em um time grande ou tocar pro atacante que está melhor posicionado. Até lá eu decido (só espero que não me roubem a bola). O certo é que não vou levar Ferrero Rocher, são esses malditos chocolates que dão azar.

O valor do DVD

Pensamos muito em rivalidade, mais até que no próprio sucesso. E a competição vigora no pensamento de todos desde os primórdios da existência humana.
Há competição em tudo. Em disputa por fêmeas até os animais lutam. Assim como por comida e espaço. Os mais fortes venciam. E é característica da rivalidade esmagar os derrotados e mostrar a superioridade.
Nos dias atuais, até nem é tão cruel essa seleção. Os que perdem não morrem. Continuam vivos e têm a chance da revanche. Diferentemente da Idade Antiga.
E no futebol ocorre o mesmo. Só que as revanches são impostas. O campeonato sendo com jogo em casa e outro fora, com todos adversários, proporciona a cada jogo, principalmente os do segundo turno, um ar maior de rivalidade. Um exemplo dessa rivalidade é o clássico Gre-Nau. O Grêmio, quando amargou a Segundona, transformava cada um de seus adversários em eternos rivais.
Agora o Náutico voltou a cruzar o caminho do Grêmio, maior rival do Inter. Subiu para a Série A. Mas o único rival do Náutico é o Grêmio, que fez até um DVD por ter vencido o time nos Aflitos. O Náutico já perdeu uma das oportunidades de vingar aquela derrota do dia 26 de novembro de 2005, tem mais uma, e ,desta vez, será no Olímpico.
O Inter venceu o Náutico por dois a zero. Ainda não sei se a direção do Internacional irá fazer um DVD sobre aquela vitória, que teve até um tombo do Alex após sua acrobacia em comemoração ao segundo gol da partida, o primeiro dele no campeonato.
Se vai fazer o tal DVD não sei, parece que a direção preferiu fazer três DVDs, estes alusivos aos títulos da Libertadores da América, da Recopa Sul Americana e ao Campeonato Mundial, vencido pelo Internacional e o adversário foi o favorito disparado e poderoso Barcelona.

Não queremos Bandeiras

Marcham... Marcham... E marcham... Só marcham, muitos sem sequer saber o porquê. Submetem-se a Bandeira e as Armas, alguns com pensamento patriótico, outros pelo salário recebido.
Ombro-a-ombro abraçam uma bandeira forjada a sangue de inocentes, a mando dos militares. Patriotismo a uma Nação que nunca teve liberdade e tampouco dá direitos à população, é atitude de fracos e imbecis.
Forte é o homem que tem como pátria, como natal, qualquer lugar. E que vê as Armas-inúteis à população e que só nos serve a fins repressivos- como uma maneira de sustento.
Perfeito é o que tem como estrangeiro todos os lugares. Não considera nenhuma pátria sua “mãe”. E defende a si, não a um brasão.
Sejamos soldados das Armas. Cantemos um hino que não fala da realidade. Iludimo-nos com uma história irreal de libertação, mas vivemos e morremos por nós. A Pátria não merece nem vida, tampouco sangue.

Dùvidas

Não sei se penso demais ou de menos, esta é uma dúvida que me aflige. Nesta difícil tarefa de ser e estar, vivemos sofrendo metamorfoses, não só fisicamente, mas principalmente, em nossa personalidade.
Todos nós, alguma vez na vida, já nos deparamos com as seguintes dúvidas: E agora de que devo gostar? Qual o gênero musical me agrada? Que posição jogar? Que tipo de roupa devo usar? Como levar minha vida? Que profissão seguir? Com que tipo de gente me envolver?
Nossa! Um horror!
Muitos acham que deveríamos vir com manual, outros tentam ser clones de alguém,mas o pior é que 90% escolhem o inverso do que deveriam ser.(Fonte: 10 anos de estudo psicológico desenvolvido somente pela nata da população mundial: Zé Buião, Estrela, Mão-Pelada, Jovem, Boca e o Saldanha, mas todas essas pesquisas foram idealizadas pelo saudoso Santo Louco).
Estaria, então, certo aquele corriqueiro adágio que diz que os opostos se atraem? Na física, sim. Nela, tudo é previsível, mas em relações humanas, não; e não considerar a paixão, o improvável, as loucuras, o psicológico e, até mesmo, todo nosso material genético é desumanizar a vida. Homem casa com mulher, mulher com homem, isso é simples como água, mas o gelo e o vapor? Também existem homossexuais vivendo em todo o mundo e são humanos também.
A escolha do nosso destino está ligeiramente ligada à nossa história, à nossa infância e à nossa auto-avaliação.
O gordo, geralmente, prefere casar com magra ,porque acha ruim ser gordo, valoriza mais o magro que o gordo, não deseja que seus descendentes sofram o que ele sofreu na infância.
O “cara” que banca de “pegador” é, no seu íntimo, um romântico iludido e abandonado por alguém que amou.
O goleiro, na maioria das vezes, torna-se goleiro por indecisão, demora a decidir sua posição, tenta todas, acaba não pegando características de nenhuma, mas, às vezes, até o goleiro tem sorte e se destaca no gol.
O juiz de futebol sonhava em ser jogador, mas era o último a ser escolhido. Era o que queria sempre estar entre os jogadores. Agora se sente bem em correr na volta deles, pois apesar de ser xingado acha que tem autoridade.
O bandeirinha é o pior dos casos, ele ainda sonha em ser juiz.
Já, as pessoas românticas, que preferem namorar uma pessoa só a “ficar” com uma e outra, têm seu instinto “pegador”e “galinha”, só que tentavam “pegar geral” e sua tentativa era frustrada. Então, quando se acerta com alguém, tenta cultivar.
O professor talvez seja alguém que teve carência de ensinamentos.
E, é por isso que não sei se penso demais ou de menos ou se também sou um louco. Deveria mesmo ser centroavante? Por que escrevo, não deveria estar correndo? Será que alguma situação estive entre os 10 %?

Cinema Gabrielense

Ainda sou do tempo do cinema em São Gabriel. Já bem diferente do que contam meu pai e meus tios em seus tempos de trocar figurinha em frente ao cinema de varias sessões semanais, mas sou.
Foi numa época de nuvens de “cascudos” sobrevoando e logo caindo sob nossas cabeças. Época em que convencíamos ou lubridiavamos o porteiro de nos deixar isento do pagamento de cinco reais. Há pouco tempo implantada a nossa moeda, achávamos que enganávamos o porteiro e ainda lembro daquele prazer de passar do lado da roleta e correr pro interditado 2° piso. Nunca mais vi o solidário porteiro. Gostaria de agradecê-lo
Meu primo e eu éramos uma dupla, jogávamos futebol em pleno calçadão, com luminárias como goleiras. Atrás de cada par de luminárias, arbustos cheios de espinhos. Furamos muitas bolas, acertamos muitas boladas em pessoas que passeavam pelo nosso campo, o calçadão, ouvimos e também xingamos bastante, fizemos muitos gols, mas o que nos fazia correr dali era quando dávamos boladas nos bojos das luminárias a 3 metros de altura. Os bojos eram de vidro. Aqueles vidro branco, bonito. Blem... no chão, todo quebrado. Corremos muitas vezes acho que fugíamos antes do bojo se espatifar em cacos no chão.
Agora, com a cidade sendo novamente tomada pelos besouros, renasce a esperança de ver o cinema funcionando, um “bando” de guri jogando bola em frente ao, agora, centro de eventos e juntando “cascudos” em grandes copos e os enchendo com água quente do lendário chimarródromo.
Só que o tempo não volta. Passo pelo calçadão, ainda são as mesmas luminárias, soque os bojos agora são de plástico. O arbusto de espinho espeta agora minha lembrança em não o ver mais.
Não tem maiôs ninguém correndo pelo calçadão, salvo alguém apressado. As linhas amarelas as quais corríamos sobre elas já estão apagadas. E, alem de tudo, tem um “guardinha” que não deixa nem andar de bicicleta no calçadão. Como pode haver diversão assim?
Provavelmente eu tenha sido um dos jogadores da ultima partida de futebol do calçadão.

Bilhete do Amor

“Nunca te disse isso, mas eu te amo. Durou mais do que eu previa e menos do que eu queria. Não posso continuar.”
Foi a única coisa que dizia naquele bilhete que recebi. Foi uma das frases mais belas e tristes que já li. Foi a maior declaração e o pior desfecho de uma história, tão linda história.
Quantas vezes eu ouvi: tu é demais, tudo que qualquer guria pode querer, o problema não é tu, não é nada que tu tenha feito. Sou eu.
Esta é a pior frase que se pode esperar. Melhor que diga que eu não presto e coisa e tal. É mais simples. Mais fácil argumentar. Mas falar o quê quando o problema é ela?
Angustiado, atônito, embasbacado com o bilhete na mão: li e reli, li e reli, li e reli.
Passei a recordar cada momento do nosso romance. Acho que eu também nunca disse que a amava, nem sei se amava, mas poderia ter dito meia dúzia de vezes. Também não reparei que ela também nunca tinha declarado seu amor. E ali dizia que ela me amava. Ela me ama. Me ama. Me ama. Ela me ama...
Se ela me ama, porque nunca disse? Pior. Por que não pode continuar? Por que o bilhete? Se dissesse que não me queria, que não gostava mais de mim eu até entenderia.
Isso! Ela quer é me atormentar. Não acredito que ela não me queira mais, não depois de escrever que me ama. Tá é se fazendo de difícil, afinal eu sempre a tive fácil demais. Ela está certa em agir assim, tem mesmo que se dar valor.
Fico com meu ceticismo, ainda acho que ela me quer. Do contrário, não faria tudo isso. Mexeu comigo, conseguiu com que eu sentisse medo de perdê-la, me fez refletir e realmente me atormentou. Como as mulheres conseguem isso?
Só elas mesmo.
Estou achando, até, que eu a amo.

Noites de Sábado

Divorciado, bem sucedido profissionalmente, 40 anos, sem muito o que fazer durante a semana, mas hoje é sábado. Tenho freqüentado um barzinho, no centro, ultimamente. Não é qualquer barzinho, é o mesmo bar. Um bar elegante, não tão badalado, é verdade. E badalação é tudo o que um solteirão deveria buscar, ao menos nos sábados. Porem ele tem algo fascinante, um ar de sensualidade que, talvez apenas eu sinta, não sei.
O que tem me levado lá é a música. Ela canta. E canta muito bem. Parece que escuto a voz dela como um cochicho em meu ouvido, e a luz baixa deixa-a ainda mais bela. Sempre peço ao garçom que ela cante a musica Sozinho, só para ouvir “... às vezes no silencio da noite, eu fico imaginando nos dois...”, clássico. Fico olhando-a incansavelmente, e tenho a impressão que ela canta pra mim.
Desta vez estava confiante, quando percebi que ela estava com os olhos em mim, toquei discretamente em minha garganta, sinalizando que gostaria de falar com ela. Ela piscou lentamente os olhos.
Ao término do show, ela levantou-se, agradeceu, poucas pessoas, solteiros, casais, amigos, amantes, desconhecidos, desceu do palco que comportava um banco, um microfone, ela. Vestia um lindo vestido azul com uma fenda ao lado que deixava suas coxas a mostra, suas curvas e um decote que escondia, mas não tapava. Nossa! Uma mulher que leva a loucura o imaginário de qualquer homem.
Sentou-se ao meu lado, no balcão: O que um belo homem faz três noites seguidas, e sozinho? Disse ela tocando seus cachinhos.
_ O primeiro foi culpa do acaso, os outros foi você.
Fui objetivo como nunca, levado pela circunstância e otimismo, falei exatamente o que deveria. E sem ga guegue jjjar.
Antes que o silencio das minhas palavras ecoasse: Acompanha-me num Drink?
_ Sim a noite é longa. Sua resposta veio acompanhada por um lindo sorriso insinuante.
Pedi dois Dry Martini ao garçom, o meu com pouco gelo e com uma dose maior de vermute.Seus olhos, seus poros, seu cheiro, sua boca, meu olhar, minha inquietação. Enfim chegou o sábado, e noite acaba de iniciar.

Sim, somos cachorros

Waldick Soriano até que tenta nos defender cantando: “Eu não sou cachorro não”. Mentira. Eu me pus a contar sobre as falsidades do universo feminino, mas o destino colocou a pedra da consciência em minha frente. Vou falar das canalhices de nós, homens. Dou alguns exemplos.
Dia desses, saímos, dois amigos e eu. Fomos a um churrasco. Na casa de algumas “amigas” do colégio. Cada um inventou uma desculpa a suas namoradas e fomos para a festinha. Quando foi de tardezinha ligamos os celulares. Em menos de cinco minutos começaram a tocar. Começaram as desculpas esfarrapadas:
_ Bah, amor! No sítio não pegava o celular, eu mesmo tentei te ligar, cheguei a subir numa árvore, nem assim consegui.
Sem demora a próxima:
_Que desligado, o quê!? Eu que tentava te ligar e sempre dava ocupado. Com quem tu tava falando todo esse tempo? E ainda vem dizendo que o meu que tava desligado, francamente...(e desligou o telefone na cara dela).
Quase ao mesmo tempo, a minha namorada me ligou, indagando o porquê do meu celular estar desligado ou fora de área. Sem demora respondi:
_ É que o Lucas tava me convidando pra um jogo no final de semana, quando cheguei no posto de gasolina e ali tinha uma baita placa alertando do perigo de entrar com o celular ligado. E tu sabe, amor, que eu sou muito azarado. Tive que desligar. Enfim, acabei esquecendo de ligar novamente, mas daqui a pouco eu chego aí. Beijo.
Cada telefonema desses foi um festival de gargalhadas. Uma mentira mais genial que a outra. Claro que todas colaram. Somos cachorros mesmo.
Mas a culpa é delas mesmas, as mulheres, que nos rotulam assim. Deixando-nos, não somente na direito, mas também na obrigação da cachorrice.
Então gritemos: Sim, eu sou cachorro. Temos que admitir, até porque de uma forma ou de outra somos mesmo. Têm os encoleirados e os sem dona, estes em duas versões: os cachorrões e os cachorrinhos.
E vou aproveitar este espaço para fazer um anúncio publicitário às mulheres: Sou vacinado, acostumado com gente, dentes saudáveis, pêlo macio, cheiroso, tenho pedigree e não mordo (só se pedir!).

Mesinha da cama

Ainda busco uma forma rápida e prática de ter e controlar a inspiração para escrever. Já tentei várias formas. Algumas boas. Outras nem sei, pois deixei passar e acabei não escrevendo. A inspiração parece ter voltado, após ter abusado de suas férias. Cheguei a achar que havia perdido para sempre, assim como Marcos, o profeta, perdeu seus poderes.
Geralmente começo da conclusão para depois o desenvolvimento. As frases vem soltas e prontas na mente. É só juntar tudo e fazer. Parece muito fácil, mas não é. Essas idéias aparecem de repente e eu nunca tenho papel à mão. Tenho sorte quando tenho e escrevo o pensamento principal pra desenrolar mais tarde.
E é ai que complica. Os lugares que me sinto mais a vontade são no sofá da sala e na minha cama. Isso é um castigo pra minha coluna. Ainda mais com esses frios que ta fazendo nesse inverno.
Tenho um plano! Desenvolver uma espécie de mesinha que eu coloco em cima da cama. E que eu fique sentado na cabeceira e tapado. Bem tapado. Uma mesa do estilo dessas que usam pra levar café na cama. Só que adaptada pra escrita.
Até já tenho o assunto para a inauguração da tal mesa. Fala sobre a impunidade dos jogadores dentro da área e a dos casais no relacionamento. Esta ta sendo martelada a tempos. Creio que será a melhor de todas. Só espero que essa mesinha não tire a magia de escrever na cama.

O feitiço contra a FEITICEIRA

Estávamos vivendo às mil maravilhas. Ela me jurava amor eterno. Que eu era tudo para ela, a melhor coisa que já havia acontecido em seus 20 anos de vida.
Eu, no começo, nem gostava tanto dela, mas como não iria me apaixonar por aquela moça, loira, olhos verdes, um metro e setenta - bem minha altura-terna, cheirosa, carinhosa, companheira, inteligente, quente. E era colorada, apesar de não acompanhar o futebol. Até sua mãe me adorava.
Dela eu só não gostava duas coisas: uma era seu péssimo costume de repreender as pessoas quando falavam errado, chegava a ser constrangedor. Ela não perdoava nenhum erro. Outra eram suas amigas, em especial a Claudinha, ninguém me tira da cabeça que ela tentava aproximar seu irmão da minha namorada. Ela dizia que não, que essa história era sem-pé-nem-cabeça. E eu nem insistia tanto no assunto para que não despertasse nela sequer a intenção de reparar no sujeito. Até porque, ela repetia para quem quisesse ouvir, que eu era sua alma-gêmea e declarava seu amor a todo instante.
Ela também era tudo para mim, só o que me fazia parar de pensar nela era o futebol, não exatamente o futebol, o INTER. E ela tinha um certo ciúmes disto, embora não reclamasse.
E este sentimento foi colocado à prova. O meu time do coração iria disputar cinco jogos consecutivos no Beira-Rio. Quatro deles pelo Brasileirão e um pela Libertadores. Definitivamente não iria perder esta oportunidade ímpar. Ainda mais que o Inter estava com um time impecável, uma máquina. Com o argumento de que “para afastar é só aproximar e para aproximar é só afastar” palavras ditas por Paulo Santana, parti à capital, deixando-a em São Gabriel aos olhos de todos meus amigos.
Passávamos o dia intero nos falando, ora por telefone, ora pela internet. No dia do segundo jogo do Colorado, ela me ligou, uma hora antes da partida. Por medo de ser assaltado, deixei meu celular, desligado, na casa do tio Adolfo, onde eu estava hospedado.
No outro dia, estranhei que ainda não tinha me ligado. Mas tudo bem. Até que o Júnior me ligou, apavorado, não sabia nem por onde começar, gaguejando mesmo me contou que viu a Paula com outro cara, o Tiago, aquele irmão de sua amiga. Passei o dia abatido. Eu tinha razão. Aquela vadia.
Na noite seguinte vesti minha melhor roupa e fui pro centro. Todo pimpão, cai na gandaia. E Porto Alegre é um paraíso particular da esbórnea. Me vinguei.
Para minha surpresa, dois dias depois chegou uma carta, pra mim. Era dela, é claro. Me xingando, falando que eu era um traste, que seu novo amante era melhor do que eu em TUDO (assim com letras graúdas), que nunca sentiu prazer em estar comigo, que nunca me amou, que sempre me enganou e que era gremista.
Era tudo mentira. Ela era muito orgulhosa e vaidosa, na certa esperava que eu retornasse um poema com as palavras mais lindas, declarando meu amor e implorando que voltasse atrás. Só para mostrar para suas amigas o quanto era idolatrada, só para se exibir.
Comprei um envelope, o mais bonito que encontrei, peguei uma caneta vermelha e comecei a corrigir os erros ortográficos da carta. No final coloquei: NOTA 35, e acrescentei um “PRECISA MELHORAR”, em letras garrafais também.
Eu vi o INTERNACIONAL vencer as cinco partidas, cada jogo foi um espetáculo, um massacre sobre cada um dos adversários. Passei uma inesquecível noite de prazer. Mas trocaria tudo isso por ver a cara dela quando, junto com suas amigas, abrisse a carta que lhe enviei.

Uma Importante Confissão

Tenho que confessar. Já não agüento mais carregar esse segredo. É uma confissão deveras complicada. Vergonhosa, até.
Eu nunca ganhei gincana!!!
Pronto. Confessei. Depois de muito tempo sem revelar a ninguém, confesso a todos vocês, meus leitores. Estou até me sentindo mais leve.
Já imagino a reação do Gordo, meu amigo desde os tempos lá da Sete de Setembro. Ele sempre me respeitou como gincaneiro. Deve estar escondendo seu rosto, agora e falando baixinho: “Que vergonha, que vergonha!”.
Não duvido de que ele me ligue pra saber se é verdade. Sim Gordo, é a mais pura verdade.
E tem mais... (agora ele deve estar em pânico) , nas duas escolas em que estudei ,tinha muita disputa pela gincana, rivalidade mesmo. Toda uma cultura e um misticismo que envolvia a gincana. No Fundamental, entrei em equipes fracas e nunca fomos além da expectativa. Já no Ensino Médio entrei na atual campeã. Perdi. No segundo ano, entrei na que eu tinha visto ganhar no ano anterior. Ganhei bastante prestígio na equipe, tive certa liderança, participei de quase todas as tarefas. Perdemos. No ano seguinte, a equipe campeã me convidou a integrar seu grupo. Aceitei. Com créditos, lá dentro fui um dos líderes. Fomos roubados. Descaradamente roubados, vergonhosamente roubados. Perdemos. Perdi de novo. E desta vez merecia erguer a tão desejada taça.
A essa altura, o Gordo já se comoveu com a minha saga. Mas e os outros? Quantos companheiros eu repreendi, cobrei mais empenho. Eles tiveram medo de discutir comigo- bem sei- porque achavam que eu sabia como ganhar gincana e os conduzia a isto. Claro que fui importante às equipes, sem sombra de dúvidas, mas fui também um baita pé-frio.
Esse ano me convidaram novamente, mas eu gosto tanto desta equipe que prefiro só ver. E de longe.

A Igreja Mudou minha Vida

Sempre segui a risca e adorava o dito: de graça até injeção na testa. E olha que eu nem precisava de tantas coisas gratuitas que aceitava.
Ônibus errado, bala, pedacinhos de papel sem valor algum, consulta odontológica, óptica, de coração, tratamento capilar, chimarrão, sucos, chocolates, bergamotas nos mercados, abraços entre tantas outras coisas.
E o que eu podia eu guardava. Frascos de amostra grátis, pacotes de erva-mate e, até, copos. E eu idolatrava aquilo. Todo o sábado limpava um por um todas aquelas bugigangas.
Mas me ocorreu um fato que me fez mudar tudo o que eu pensava sobre o assunto. Estava caminhando em busca de nada, pelo centro, quando, de repente, alguém me estende um jornal. Sem hesitar perguntei se era de graça. Claro que era, era um jornal de igreja. Peguei e ainda comentei: de graça até choque. Talvez tenha sido aí o meu erro. Uma vez me disseram: “não dê assunto pra desconhecido”, mas por alguns instantes eu me esqueci, ou não dei bola ou até imaginei que estava falando com alguém inofensivo. Mas saiu e só percebi depois que já tinha fechado a boca.
Sem pestanejar, a moça que estava distribuindo os jornais me perguntou se eu desejava colocar meu nome para a oração. E não é que eu aceitei. Quando eu estava escrevendo meu nome, cuidei pra cima e já estava vindo mais uns três da igreja ao meu encontro. E vinham... e já estavam a uns cinco metros e eu ainda estava no Nunes, ainda faltavam mais dois nomes. E eles cada vez mais perto. Dois vestindo preto e mais uma de branco atrás deles.
Nem bem eu tinha me posto ereto, ofereceram pra que eu fosse visitar a igreja deles. Vacilei. Até nem ia entrar. Já pensava numa desculpa boa pra não ser mal educado e ir embora e esperar que orassem por mim. Mas, ao mesmo tempo em que a moça de calça branca colocava meu nome numa caixinha que estava no chão- ela naquela posição, com a marca de uma minúscula calcinha e eu que já tinha uma tara especial por mulheres de calça branca- a moça do jornal ainda brincou: “é de graça”. Irresistível. Não pude me conter e entrei. Afinal saí de casa em busca de nada, o que viesse seria lucro.
Mostraram-me toda aquela rica igreja e me deixaram ir embora, saí dali pensando: como eles têm tanto dinheiro? Antes das sete, quando eu já estava em casa, o pastor, eu acho, bateu na minha porta.
_ Vim te convidar pra assistir a reunião hoje. Falou antes mesmo de eu poder perguntar como ele havia descoberto meu endereço.
_ Aceita uma carona? Indagou novamente, isso tudo em questão de segundos.
Aquele monte de informações na mesma hora me agoniou tanto que não sabia nem o que falar.
_Hã? Foi o máximo que consegui pronunciar.
_ Sim, vamos à reunião? Começa daqui a pouco! Insistia aquele homem.
_ Não vou. Não adianta insistir, se tu não sair daqui agora mesmo vou chamar a polícia.
Fechei a porta. Espiei pelo olho-mágico e ele ainda estava na mesma posição.
Fui um grosso com aquele pobre rapaz, mas se eu não falasse tudo aquilo tenho certeza que ele iria me convencer de ir naquela maldita reunião. E eu ainda tinha que ver o jogo da Seleção Brasileira contra um combinado de Uzbequistão. E como eu iria perder um jogão desses?
Olhei novamente, uns dois minutos depois, ele já havia saído.
Ufa! Estou livre.
Por fim nem consegui olhar o jogo. A TV a cabo que recém tinha assinado estragou. Fiquei olhando Torre de Babel, na Globo.
Pior foi que não dormi a noite inteira. Uma paranóia dessas que nos transforma em algo semelhante a uma barata tonta. Perdi horas daquela noite fria colocando todos aqueles lixos que ganhei e não tinham serventia nenhuma. Só serviam pra juntar traças, baratas e uns bichinhos cinza que não sei o nome.
O pesar foi quando terminei de juntar tudo aquilo em dois sacos e coloquei-os na lixeira. Apesar de ser lixo, era meu.
Já eram quatro horas da matina, o sol ainda nem havia despontado, quando decidido a nunca mais pegar nada que fosse de graça, fui dormir.
Às oito horas já estava no colégio. Foi quando o professor de matemática propôs um desafio. Falou brincando:
_ Quem conseguir resolver esse exercício vai ganhar uma viagem pra Bagdá.
Uma tentação, apesar de saber que lá está sempre explodindo bombas. Eu fui o único da turma que conseguiu resolver o exercício, sabia que tinha acertado. Sequer mostrei ao professor.
Mais tarde, voltando pra casa, fui encher o tanque do carro e, sorridente, vinha uma moça com um copo d’água numa bandeja. Veio pro meu lado e nem falou nada, só me alcançou. Eu sempre aceitava, embora não estivesse com sede.
_ Não, obrigado. Estou de dieta. Ela riu.
Foi a coisa mais inteligente que eu consegui falar.
Agora, nem papel na rua eu pego. Nem por educação. Nem pra largar na primeira lixeira que encontrar.
E o pior é que eu fico imaginando os milhares de descontos e oportunidades que eu posso perder, mas não pego.
Sou um grosso!
E foi a igreja que me deixou assim.

ELDER NUNES CORRÊA JUNIOR

Amanda

Como faço pra escrever um poema sem usar seu nome?
Como falar nas belezas da vida sem você?
F
alar nas flores sem sentir seu perfume
Falar e
m cores sem ver seus olhos
F
alar de doces sem desejar sua boca
Falar
nas estrelas sem mais enxergar a que lhe dei
Falar no passa
do sem ter passado contigo
F
alar de tristeza sem lembrar seu choro em meu ombro
Falar em mulher... Falar de amor... Sem pensar em você
Amanda

El Caricato

Admiro muito os caricatos, sua arte seu humor, sua hipérbole...A beleza não chama muito minha atenção, prefiro a feiúra, ela tem graça, novidade, é inusitada. A beleza todos conhecem, é simples. O feio é complexo. E a caricatura, geralmente, destaca a parte feia de quem posa, pois dificilmente o belo mereça a ênfase da caricatura.Por valorizar tanto este tipo de desenho, quando fui à capital uruguaia, procurei, numa feira livre próxima de onde estava almoçando, algum caricaturista. Não encontrei e pedi a um senhor que, ao vê-lo passar, viesse me encontrar no restaurante.Já estava desesperançado em encontrar alguém para fazer minha caricatura- apesar de já ter ouvido dizerem que eu era uma caricatura de verdade- quando, com uma prancheta rabiscada no braço, um terno cinza bem surrado e um olhar perdido, chega o dito cujo perguntando quem era o “mutiatio” que havia lhe chamado. Antes de responder que tinha sido eu, pensei: o que significa “mutiatio”? Minha ansiedade fez com que eu erguesse o braço sem indagar sobre aquela expressão.Me mandou que sentasse a sua frente. Sentei. Todos me olhando, fiquei meio sem jeito._Espera! Se eu não ficar bonito, não vou pagar!E ainda acrescentei que o corpo fosse feito com a camisa do Brasil, e a número nove. Só isso.Me pus acomodado na cadeira novamente, estampei um sorriso falso, que daquela vez não foi assim tão simples como de costume. Os traços que ele fazia geravam risadinhas e cochichos de quem o via desenhar. Porém, o rosto de quem olhava era impassível. Todos riam. Estaria bonito? Engraçadinho? Ou muito feio?Enfim, ele mostraria. Fez certo suspense, que me deixava cada segundo mais próximo de um ataque de nervos. Todo pimpão e orgulhoso, enfim, ergueu o quadro para que todos pudessem ver. As pessoas aplaudiam minha caricatura.Ufa... Fiquei lindo na caricatura. Acho que ele temeu não receber. Cada detalhe exatamente como eu sou, só o nariz não foi tão grande, bondade dele. Enfatizou meu sorriso, o que mais gosto em meu rosto. Me deixou com o sorriso do Coringa, olhos fundos, graúdos e marcantes; o cabelo igualzinho. Tudo perfeito. Lindo. Ele é um gênio.Eu admiro, sim, a feiúra, mas não a minha.

ELDER CORRÊA JUNIOR